domingo, 30 de novembro de 2008

Ode ao sono (antes que te faça sangrar)

Emília não podia dormir com o barulho que se espalhava pelo quarto. Seu marido, cansado do dia, da semana, ou do mês, roncava como um porco prestes a ser assassinado. Pois saiba leitor que os porcos, sabem quando seu fim está por vir. Nesse caso, Jorge não poderia adivinhar que sua mulher, quando finalmente conseguia dormir por alguns minutos, sonhava com a morte do esposo, cerrando seu pescoço, cortando suas cordas vocais. Ambos, de certa forma, ficariam em paz para sempre. Mas, veja, o problema para Emília era muito mais psicológico: como iria manter sua mente em ordem no dia seguinte sem poder dormir? Como iria cuidar das crianças e da casa? Depois de sessenta minutos de opressão sonora, resolveu levantar e empurrar o companheiro, o que originou apenas resmungos e alguns movimentos falsos. Não agüentando mais a situação, correu a cozinha, pegou a maçã mais vermelha que encontrou do cesto, e voltou ao quarto. Sorrateiramente depositou a fruta na boca de Jorge, a falta de ar o fez acordar abruptamente, além de engasgar por alguns segundos. “Que porra tu tá fazendo? Tá louca mulher?”, cuspiu Jorge junto com a saliva que o afogara . “Tô sim, seu merda, tu não pára de me atrapalhar, vai embora, sai daqui, antes que eu enfie uma faca em ti e te faça sangrar como um maldito porco”. Os olhos de Jorge pularam, não reconheciam a mulher, juntou sua bermuda, seu chinelo e saiu perdido pela porta do quarto. A maçã ainda aguardava na cama, esperando Emília, que se espalhou pelo colchão, dormindo em paz. Sempre em paz.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o senso de humor...

Camila. disse...

Esse ficou engraçado!Ainda mais na parte onde diz:"roncava como um porco prestes a ser assassinado".
xD