sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Crônicas de um repórter novato - parte II

Não sei por que fiz jornalismo e ainda não sei por que faço. Vejo tantos colegas participativos em aula, alguns tão motivados em aprender a ser jornalista, e eu parado. Quieto, só observando. Não deveria me sentir mais motivado? Realmente não sei. E isso me remete aos meus 15, ou 16 anos. Eu no final do colégio, não sabendo o que fazer da vida, a única coisa que eu gostava na época era de literatura e de escrever. Nunca houve muita coisa, além disso. É claro, depois veio o cinema, mas mesmo assim eu sempre me interessava pelas melhores histórias. O modo como foi escrito, os personagens mais diferentes, mais misteriosos, ou aventureiros. Sempre foi isso tudo primeiro.

Não me lembro como chegou o jornalismo. Na verdade, na época, não tinha nem ideia porque eu optaria por esse curso. Quis Letras durante certo tempo, mas não me imaginava lecionando para alunos que não queriam aprender, acabaria me tornando mais um professor frustrado, com pouco dinheiro e com uma falsa razão de dignificar meu trabalho pelo ensino. Não, eu não seria mais um deles.

Veja bem, eu até gostava da minha professora de Literatura, acredito que ela foi a responsável por me apresentar grandes livros, mas não foram os livros certos para um jovem adolescente. Mesmo assim, percebia naquelas linhas que ali estava algo diferente: finalmente haviam descoberto como parar o tempo, como fazer a vida brotar da mente.

E o melhor, não era algo falso, não era algo somente inspirador, escrever não é somente inspiração, a boa literatura reflete as angústias, as vontades e todo o clima de sua época. E precisa de muito trabalho. Toda linha deve ser pensada, a estrutura de uma narrativa, a questão da linearidade. Mas então me disseram que não há lugar para escrever no Brasil. E quem disse que eu teria talento o suficiente? Para fazer o que eu mais gostava eu teria que vender a minha mão de obra, como qualquer trabalhador assalariado faz, como o meu pai faz, como o seu.

Acho que foi por aí que veio o jornalismo. Alguém me disse que eu tinha uma boa redação e que poderia ser interessante aparecer na televisão, trabalhar num jornal, escrever em modo de fábrica. Colocar meus dedos num teclado da redação e digitar para informar apenas. Sem rodeios, sem jogos de esconde-esconde. Apenas deixar o leitor inteirado do que está acontecendo e também, quem sabe, denunciar algumas coisas às vezes.

Acredito que o jornalismo encontra a sua metáfora perfeita no seu termo mais conhecido: o lide. Completamente objetivo, racional, chato e enfadonho. E o pior é que os jornalistas, em si, não são seres chatos, mas muitas vezes pessoas completamente frustradas. Ou não.

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