quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

“Você fala para dentro.”

Não sei se foi natural ou se me convenceram, mas quantas vezes eu já escutei essa frase? É, sim, eu falo para dentro - e com orgulho. Várias pessoas não dialogam com o seu interior e parecem se perder todas. Porque é importante se conversar, não? Minha voz é muito manhosa, ela só fala bem com pessoas que a interessam, sabe. A articulação da boca é preguiçosa e desritmada para a conversa ( para outras coisas ela flui como uma sinfonia de BACH ), bem diferente dos meus dedos, ou das minhas idéias que de alguma forma parecem se encaixar perfeitamente, como arroz e feijão. Preto no branco. Frio e praia ( para mim sim, ué). Mas vou tentar mais abrir a boca, soltar mais a minha voz grave e pronta, porque é preciso agora, mas espero que ela soe tão bem quando internamente. Fora isso, é necessário falar com os seus pensamentos, entrar em conflito com as suas questões, reavaliar toda pequena decisão tomada pelo seu subconsciente mentiroso (sim, ele é). Falar-se e entender-se é fundamental para todas as coisas criativas e belas desse mundo.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Obstáculo 2

Já te falei dessa distância que há entre nós? Acho que é só entre nós mesmo, não a sinto com mais ninguém. É justamente essa capacidade que tenho de não terminar suas frases, de não conseguir premeditar algo óbvio. Pequenas coisas que atrapalham por completo toda a nossa integração. Nós já fomos mais ligados se lembra? Houve uma época em que segurava a minha mão e eu nem perguntava o porquê disso. Agora sempre me olha sem querer, desviando o pescoço. Quando me vê, dá passos largos, sussurrando baixo, para eu não ouvir. Não sei como acabou ficando assim, se a estrada que nós usamos leva sempre ao mesmo do mesmo, ao óbvio que canta as suas obviedades. Ah, e eu gostava tanto de fingir te ter. Me diz, como foi acabar assim? Esse seu jeito moleque, meio infantil e louca, divertida e engraçada, séria e chata, não dá para esquecer, por que foi acabar assim, droga, não?
Salve hoje à noite.
amanhã eu vou embora.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Teoria número dois: sobre falsas aproximações e amores fugazes

Já disseram que o universo está expandindo. E eu falo mais: todos nós estamos nos afastando também. Pouco a pouco, talvez, mas cada vez mais indo embora por completo. Não encaro mais as coisas como simples proximidades, as pessoas se conhecem, mas não permitem mais se aceitarem inteiramente. É triste, todos nós estamos ficando diferentes, sem saber respeitar isso. Vivemos em nossa visão simplória e pragmática da vida, cada pessoa é um planeta com as suas próprias regras e compromissos, não existe conferências inter-pessoais. E quando há, este é um dos caminhos para a verdadeira paixão: seja a amizade apaixonada, ou aquela paixão que aquece e desmonta o coração. Essas coisas que a maioria vive são amores fugazes que às vezes duram uma madruga, ou algumas músicas na pista de dança, ou de repente até anos (quantos ficam casados só por causa dos filhos?). Estamos acostumados com a falsa aproximação, talvez seja medo de se machucar, receio de ser aceito - quem sabe até por si mesmo. Eu cansei, sabe. Não preciso mais de falsas aproximações. A vontade que tenho é de puxar meu universo para perto, e olhar cuidadosamente a minha volta. Cuidar das pessoas. De todas elas.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Insensatez

Poucas coisas me assustam mais do que não conseguir dizer aquilo que eu quero dizer. É preciso dar a informação correta, isto é, é necessário pensar antes de escrever, antes de falar ou de comunicar-se em geral. Acredito que é esse o motivo que me petrifica quando vejo uma folha completamente branca a minha frente, ou ao observar o monitor do micro só esperando despejar as palavras. Tenho medo de falhar com esse momento, de não acertar o caminho das letras, de brigar com elas, não saber agrupa-las amigavelmente. Não perceber o que almejo transmitir por meio de um texto, ou de uma conversa, é completamente insensato para mim, talvez essa seja a palavra que defina esse meu temor: insensatez. Esse deve ser o motivo de eu pensar demasiadamente, ter medo de falhar primeiramente comigo e seguidamente com as pessoas ao meu redor. É necessário trocar as informações e os medos, todos os pensamentos, um fluxo geral de idéias sem nenhum ressentimento. E nunca perca um momento. Nunca perca o impulso dele, guarde-o para sempre , até conseguir expressá-lo, acho que é esse o segredo, nunca há um esquecimento de uma idéia, ela continua nos seus neurônios, sendo trabalhada, uma hora ela escapa por entre as mãos até chegar a uma folha, ou uma tela de computador.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Falando por si

Há uma relação estreita entre o sistema nervoso e o corpo, cada atitude imaginada reflete em um movimento, brusco, calmo, sensível, e tudo é controlado pela massa disforme em nossa cabeça, ou seja, o cérebro manda e os órgãos obedecem. Porém em meu ego humano, cada pensamento parece querer aflorar em demasiado na superfície do corpo, como se desse jeito pudesse se expressar por completo. Diminuir as ansiedades. E é justamente nessa parte que ela entra em cena, surgindo grande, notável e majestosa. Sempre, e eu digo sempre mesmo, antes de um dia importante, anunciando, tal como um grande farol, que algo irá acontecer. E nasce no centro do rosto, alegre, sempre vermelha, talvez acumulando todo o meu nervosismo, fica plantada ali no nariz, só esperando, contando as pessoas que estou preocupado. Pois é, ela dá a dica, a maldita entrega tudo, dolorida, a espinha parece debochar da minha condição de se estressar com as coisas. Quando eu a observo é como se ela falasse que eu necessito da sua presença para me acalmar, a fim de não ficar pensando a frente, e assim poder descontar minha ansiedade no “problema” do nariz. O meu corpo brinca com os meus pensamentos, cria atalhos para me distrair. É irônico, é estranho, mas é como as coisas funcionam, só surgem espinhas no nariz, quando estou realmente nervoso, ela é um sinalizador, aham, então já saiba, se você me ver desse modo, é porque algo grande está para acontecer.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Tudo acontece na Rua Luís de Camões

Influenciado pelo título de um filme que vi ontem, resolvi escrever sobre uma das minhas prediletas ruas da cidade. Ela não é a mais bonita, e certamente não é a mais elegante, mas há algo que somente eu posso dizer sobre aquele lugar. Muito da minha vida passou por ali, quantos passos não ficaram para trás, inúmeros pensamentos, na sua subida longa e sinuosa, agora devem morar entre as pedras, ou nas folhas verdes das árvores que se espalham pela calçada. A igreja fica nessa rua, o clube, várias lojinhas onde eu comprava minhas revistas, e alguns materiais. As mulheres, e sim, eu me apaixonei por uma delas na Rua Luís de Camões, mas eu nem a conhecia, porém, aqueles olhos me consumiam, junto com a atmosfera peculiar daquela rua. Todo dias às sete e quinze da manhã eu a via, querendo ser notado. Acabei conhecendo-a depois, mas o destino e alguns desatinos meus, não permitiram a união. A Luís de Camões é um caminho que leva até o meu antigo colégio, para a minha casa também, e agora para a faculdade. É uma extensão dos meus pensamentos de certa forma, é um caminho que devo tomar para sair de casa, a fim de espalhar-me pela cidade, pelo país, ou pelo mundo. Por isso tudo acontece por ali, por isso tudo tem que passar pela Rua Luís de Camões.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Desconfianças.

Tudo que aborda somente a superfície me irrita demasiadamente, isto é, algumas pessoas só conhecem o princípio do básico e acreditam saber o suficiente. Nosso país está cheio de falsos “medalhões”, pessoas que lêem qualquer sociólogo, filósofo, ou autor consagrado e espalham falsas sabedorias aos quatro ventos, e o triste, a maioria dos cidadãos acreditam nesses charlatões sem falsa modéstia. E por que estes confiam neles? Porque estes lêem menos ainda, e quando o fazem são principalmente os jornais populares que, mais uma vez, não se aprofundam em nada – a não ser em histórias melodramática que prendam a atenção. Por isso, se você não ler quase nada, seja ao menos desconfiado com aquele seu amigo que vem com “grandes” idéias, ou o seu outro conhecido que é entendido de tudo, e que vota pelas promessas do político. BESTEIRA. Com o caps lock ligado mesmo, é idiotice acreditar nos outros, seja um desconfiado em potencial, sempre fique com o pé atrás – se possível os dois. E leia, por favor, leia. Apenas desse jeito é possível driblar as idéias contraditórias, bobas e enfadonhas pelo caminho e saber pensar por si próprio, essa é a primeira independência que devemos conquistar.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Vestido com chuva (crônica)

Choveu levemente na última sexta, daquele tipo de gotas finas e suaves que molham sem querer, suavizando, quase que, vestindo o corpo do transeunte. O céu parecia nem tê-la chamado – talvez São Pedro estivesse mais feliz com um possível sol –, mas ela foi aparecendo devagarzinho, do nada, mansa e maliciosa mesmo, como se falasse que estava com saudades e que precisava de nós, ao menos eu me senti assim. Quando caminhava sob , e pensava sobre ela, notei que esses pedaços minúsculos de água, continham, também, uma quantidade enorme de outras substâncias, cheias de vida e de destinos diferentes, com diversos tipos de missões constituídas pelas nuvens, a fim de chegarem aos pontos mais remotos da terra e contribuírem com os seus corpos para o ciclo da vida. Para se auto construir e para nos reconstruir. A água nos define e, mais do que isso, ela nos explica, produzindo-nos pensamentos, idéias, e a capacidade de seguir em frente. E era isso que eu estava fazendo: indo ao encontro do meu ônibus para mais uma aula, chata, desnecessária e impessoal. Mas foi nesse momento que a chuva apareceu de canto e, mais ou menos, 200 metros de distância, que me separavam da parada, foram varridos por pensamentos misturados com H2O. Quem sabe, a água até tenha invadido os meus poros, corroendo as minhas idéias infectadas de teorias que eu não pedi para estudar, diluindo-as e tornando a minha cabeça um lugar melhor para eu viver? Acabei imaginando mais que isso, pensei que se até a nuvem tem um plano de vida – fugaz, mas um plano – para cada gota que saí dela, de repente, a água poderia ajudar a dar-me uma razão, ou a simplesmente purificar os meus medos, traduzir os meus desejos e ambições desconhecidas.
É fascinante como cada gotícula está programada para furar o concreto duro da calçada, invadindo-a, procurando a terra, dando-lhe vida, possibilitando que uma diversidade absurda de seres se alimentem das raízes de plantas, oportunizando chances a todos de participarem desse enorme ciclo do ambiente. E essa mesma substância também nos propicia a nossa redenção. Enquanto sentia meu cabelo se afofar, sendo por fim vencido pela elasticidade da água, percebi que toda a vida, ou falta dela, pode justamente ser explicada pela aquela sensação da garoa percorrendo o rosto. Dei-me conta que todos somos partes desse grande panorama, uma enorme colcha de sentimentos diferentes que precisam ser curados, algumas dores que nunca foram bem explicadas, sensações nunca ditas, medos inexatos. Assim como cada gotícula de água tem seu lugar no mundo, todos os nossos pensamentos devem ter um lugar e um objetivo, dentro de nós. A chuva de fim de tarde mexeu com tudo isso. Embrulhou o meu estômago. De repente os carros passavam lentamente, diminuíam as luzes parecendo entender o meu pesar, e o vento fazia a chuva sempre cair em linha reta, como se marchasse ao meu lado – e com o meu corpo – os passos que me obrigavam a voltar a minha vidinha cotidiana de estudante normal. Agüentando as horas, com o intuito de tentar aprender algo que eu não sei se é relevante para o meu futuro. Eu nunca poderia ser como chuva, mas eu entendi tudo que ela queria me passar.
Uma pequena quantidade de vida estava contida em cada gota, e eu, que não sentia muito da minha vida, fiquei de braços abertos por cinco minutos, caminhando bem devagar, deixei me confortar, molhar todo. Achei que se apanhasse chuva o suficiente, seria uma nova pessoa: completo de objetivos e absolutamente certo das minhas escolhas e decisões. E de repente uma serenidade acolhedora, que toma a gente às vezes, acertou-me, e eu sabia que por trás daquelas nuvens meio pretas ainda estava o sol, que continuaria a brilhar, majestosamente, sob todas as criaturas da Terra. Não fiquei mais com tanta dúvida, porém, também, não peguei o ônibus aquele dia. Permaneci caminhando mais um tempo até surgir as estrelas, suas luzes reluziam na garoa produzindo uma cor prata em cada singela gotinha, foi então que eu me senti tão pequeno perto delas, tão mirrado em minha interioridade, tão cheio de problemas que eu mesmo invento – e que fundo eu sei resolver e não faço –, que sem titubear, talvez, também, meio atordoado pelas constelações e vestido pela sensação embasbacante da chuva prateada, eu decidi simplesmente parar de refletir muitas pequenas coisas, e ir para casa deitar e dormir.


Texto produzido para a cadeira de comunicação em língua portuguesa 2, uma crônica que ninguém sabia muito bem em que tipo encaixar, acabou ficando na metafísica - filosófica.
Enfim, espero que gostem. =)
às vezes uma chuvinha mexe com a gente, não?