Comecei a notar a diferença em suas atitudes no momento em que ela deixou de abanar para mim da janela de vidro da cozinha, quando eu saía para a faculdade. A mão branca e pequena sempre pendia por trás da cortina que dividia o rosto em dois, os joelhos na cadeira para conseguir me enxergar. Aonde eles estavam agora? Ao chegar, já no final da tarde, ela também não me procurava mais: se ocupava agora com a tevê, ou com a nova maquiagem que a mãe tinha comprado. Com o tempo, os programas que ela assistia também mudaram, não eram mais tão infantis, onde estaria o Bob Esponja e o siri cascudo? Os seus gestos, antes tão meus, antes tão nossos, agora eram afastados sem querer, por um muro que o crescimento cria – a infância, infelizmente, não pode durar para sempre. Não consegui evitar certo ressentimento em não poder mais pega-la ao colo, ou leva-la na vó, “agora eu já sou grande, mano”. “Grande com nove anos”, penso eu e a seguro pela mão, quase que pedindo para levá-la e enfim, conseguindo conduzi-la até a casa da mãe do nosso pai.
É, o tempo passa Rafael, o tempo realmente voa.
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