sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Contato

Foi com receio que ele se aproximou da porta de madeira da casa velha. A mãe proporcionou a motivação: tirou - o do carro com uma força que ele, até então, não conhecia, falou boa sorte e entrou novamente. Ligou o motor e partiu, o menino só observou , pode ver o automóvel virando a esquina, o velho carro cinza que a mãe tanto cuidara. Ao dar a volta para encarar a porta, um estranho o esperava. Mascando um chiclete, ou qualquer outra coisa de goma, ele fechava e abria a mão, como se fosse trabalhar no campo, arando a terra. Encabulado, o rapaz foi ao seu encontro, segurando a mochila nas costas, com o espírito inquieto e punhos cerrados. Entrou em silêncio na casa, compartilhando – o com os móveis e o chão empoeirado. O velho ainda demorou alguns segundos, olhou pausadamente para os dois sentidos da rua, depois caminhou até a porta e a trancou. Ambos não sabiam o que dizer, talvez já fosse tarde - para qualquer contato, para qualquer aproximação. O menino se sentou e ficou lá esperando, percebendo toda a barreira que se instaurava entre as gerações. Sem saber o que falar, o velho trouxe uma foto, que achara em meio a desordem do seu quarto, da sua vida. Cuspiu o chiclete fora, se aproximou lentamente e esboçou as palavras:

-Sua mãe, quando criança tinha esses seus olhos...

Um comentário:

Anônimo disse...

pobrezinho dele. =\
mas eu gostei ^^