quarta-feira, 22 de abril de 2009

Tempos modernos

Há anos o psicanalista me fala que eu devo enfrentar a situação frente a frente com o senhor, mas não consigo. Sempre que tento uma aproximação, você se livra fácil de mim, pai. Dá respostas curtas e sai resmungando outras que não consigo entender. Resolvi apelar para o MSN, mas mesmo nesse modo de comunicação, você continua totalmente distante, fora que não tem acessado muito (não duvido, até, que tu tenha tido a cara de pau de me bloquear). Sempre foi chegado nas modernidades, não é? Como a vez que você resolveu fazer aquela tatuagem de um símbolo japonês, mesmo não sabendo o que queria dizer. Ou quando resolveu colocar o piercing na sobrancelha (mesmo que você goste, vou dizer : não ficou legal, pai). E o cúmulo é tanto que aqui estou, escrevendo o que preciso te dizer por depoimento do Orkut, olhando essa sua foto sem camisa do perfil, esse bigode estranho, o piercing metálico na sobrancelha.

Não é que eu tenha medo de falar isso para ti, mas é que toda vez que tento te contar, você foge. Embora eu saiba que no fundo o senhor sempre soube – eu também, nunca fiz questão de esconder. Mas é engraçado você não querer me escutar, pai. Digo engraçado, porque o senhor mesmo sempre foi tão moderno, ou tão metido a moderno. A última moda, a roupa mais descolada, todos esses utensílios jovens, essa tecnologia. O senhor até comprou um laptop, só porque o seu Jair do apartamento ao lado inventou de ter um. Logo achei que seria de fácil compreensão, a mãe, a mana, os seus vizinhos, todo mundo já está sabendo pai. Por isso eu vou te contar por aqui mesmo: o Roberto não é só meu amigo, vamos nos mudar para o nosso apartamento semana que vem. Se quiser aparecer venha traga um vinho e seja feliz.

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