quarta-feira, 15 de abril de 2009

Evasões

Às sete horas da manhã de uma terça feira compreensível, Eduardo notou um odor que se espalhava pelo apartamento. Era estranho, pois tinha poucos cômodos, poucos aparelhos, poucas roupas. Em menos de um minuto já havia rondado todos os móveis à espreita de algum bicho morto, talvez. O lixo fora levado para a cesta no dia anterior. Lembrou-se do ato, devido à figura de sua vizinha que nunca lhe saia da cabeça. Havia a encontrado no corredor, ela usava um short pequeno, azul escuro, as coxas morenas saltando, o tamanco de madeira, empinando as nádegas. E ele com o saco de lixo na mão, os restos de miojo e de papel higiênico. Tentou esconder a sacola colocando-a atrás do corpo e cumprimentando a moça com um sorriso sincero. Ela balançou a cabeça, o lábio coberto por uma casca de batom rosado, quase se apagando, enjoando a sedução. Mesmo assim esboçou um sorriso amarelo, se extinguindo aos poucos. Agora eram duas coisas em sua cabeça. Resolveu abrir as janelas, espraiar os ares, pensou. Ao permitir a entrada de vento, percebeu o verdadeiro motivo do mau cheiro. No meio da rua, o corpo de um cachorro atropelado. O sangue espalhado no cimento, seu corpo desfigurado, isso ninguém ainda havia limpado.

Um comentário:

Maurício Cauduro disse...

"...da manhã de uma terça feira compreensível"
terça feira compreensível??
bah, profundo...