sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O pescoço

Mostra-me o teu pescoço. Só mais uma vez. Já falei que me apaixonei por ti desse jeito? Sim, sim. O teu pescoço, tão longo, como uma ponte sinuosamente escrita que leva à tua boca. Ao teu rosto. Um pescoço que pede para ser acariciado, tocado, beijado, um pescoço cheio de ritmo e pensamentos. Sim. O teu pescoço foi a primeira coisa que eu notei. Tua altura, o teu modo de andar, o teu cabelo curto, tua cara de pretensão? Não. Nada disso. Apaixonei -me pelo pescoço, e pelo modo como ele te diz. Do jeito que ele te explica. Mesmo sem te conhecer, teu pescoço já é meu íntimo. Ele te define alta, imponente, não explicativa, uma incógnita a ser resolvida. Puro cansaço. Pura boa vontade. Teu pescoço demonstra alta capacidade de se ter ambição em te amar. Teu pescoço é uma pergunta curiosa e não um convite. Tu não dá convites, teu pescoço não é um salão de festas. Só para pessoas altamente qualificadas que consigam passar no teu teste final.
O pescoço dita à música, diz o ritmo, mostra as direções, explica os caminhos, demonstra os objetivos. Quebra algumas respostas. Tudo bem, mas tudo bem, se agora não queres mostrar para mim esse caminho para as perdições, se preferes cobri-lo com um cachecol preto cinza, vá em frente, mas não finja. Por favor, não minta com os seus olhos. Esses seus olhos castanhos claros, castanhos escuros, que quando o pescoço encontra-se uniformizado pelo cachecol, é a peça mais bonita da sua formação Amêndoas, castanhas, nozes que eu queria saborear. Duas esferas redefinidas pelos astros não explorados dos universos estranhos que devem existir à nossa volta. Não é o mesmo modo de sentir, pois são duas razões distintas. Teu pescoço, tua pele branca, teu medo de barata, tua voz rouca na escuridão da noite. Todas as coisas que eu imagino, quando bebo vodka. Tudo isso se junta quando olho para o seu pescoço. E depois quando olho para os seus olhos, e às vezes quando eles se encontram – mesmo que infimamente – eu quase debruço de falência de sugestão. Própria. Nunca sei o que dizer. Sempre acho que não nota, ou que olha para meu lado sem querer. E assim vivo brincando de te esquecer. Pescoço por pescoço, olho por olho.

por Lucas Felt

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