quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Entre
O que me deixou mal, na realidade, foi o desdém. Próprio. O achar feio, chato, não necessário, quando eu já soube muito bem como os corpos se pedem. É que eu estava no meio. Entre o casal. Os dois magros, finos, delicados, brancos e loiros. Pareciam ser de outro país. Ele entra no ônibus meio torto, como se não quisesse ir embora, ela fica na calçada, perto da janela, perto da janela onde ele está de pé. Ônibus cheio. Eu também estou ali, só que sentado. No meio daquele amor, daquela generosidade enjoativa. Beijos desenhados no ar, as palmas da mão batendo no peito, insinuando que ali mora um sentimento incrível. Eu penso que também já o senti, que não é nada demais. Noto-me um velho rabugento perante eles, como se estivessem fadados para o fracasso, que nada dura. Fiquei ali sentado, observando-os, não querendo olhar, mas não conseguindo evitar a tentação. Enfim, eles se despedem: ele joga a mão para a fora, ela o alcança, as peles se tocam, mais uma vez. Talvez eles se vissem daqui a uma hora novamente, ou talvez ele fosse viajar e eles nunca mais trocassem olhares. Aquilo não importara no momento. Quando as pessoas realmente se gostam, as emoções são muito fortes. Tanto que consegui sentir na minha pele. Foi nesse momento que o desdém desapareceu, substituído por uma doce nostalgia romântica que há tempo não me tomava. O céu ficou mais escuro e a lua agora banhava o ônibus, como se todos nós fossemos morrer no minuto seguinte.
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Um comentário:
hmm..
mto bom..
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