Meia noite e meia quando Júlio levantou, pôs as
calças e acendeu a luzinha fraca, que agora ficava perambulando majestosa, se
alargando por todo o quarto. Silêncio voava sob o apartamento e ele sem sono
metia os dedos na calça jeans, esparramada na cadeira perto da cama. Tinha
até que acordar cedo, mas não importava, precisava dar uma volta, nem que fosse
pela rua, pelo bairro. Encontrou as chaves largadas no chão e se apressou em
tomar o caminho da rua do jeito que estava vestido mesmo: o chinelo, a bermuda,
uma camisa larga. Avançava o portão de saída do prédio e encontrava a calçada e
de repente já dobrava a esquina, cortando caminho até a avenida, onde carros
minguados eram cada vez mais escassos na noite que adentrava a primeira hora da
madrugada. Mirando seus olhos, devagar, ele já podia ver o reflexo dos faróis
dos carros (tons cinza misturados) com o vazio transparente de vento. Ventava
um pouco, mas nada que atrapalhasse o passeio noturno. Nada que atrapalhasse a
visão de Júlio que ficava estarrecido com a altura dos meios-fios da calçada. Só lá pelas duas da manhã esperando para
atravessar a faixa ele conseguiu se perder de vez ao confundir as cores e os
olhos da pedestre que cruzava ao seu redor. Destoado, sem saber o que fazer
resolveu não fazer nada. Tomou o caminho de volta para casa por um atalho entre
um jardim, pelo qual nunca havia passado – pelo menos de dia. Dobrou a esquina
e cortou caminho direto para o prédio. Aos poucos, a noite ia terminar de ser consumida, alimentada por sonhos, olhares, cores.
.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário