segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Meia noite volta

Meia noite e meia quando Júlio levantou, pôs as calças e acendeu a luzinha fraca, que agora ficava perambulando majestosa, se alargando por todo o quarto. Silêncio voava sob o apartamento e ele sem sono metia os dedos na calça jeans, esparramada na cadeira perto da cama. Tinha até que acordar cedo, mas não importava, precisava dar uma volta, nem que fosse pela rua, pelo bairro. Encontrou as chaves largadas no chão e se apressou em tomar o caminho da rua do jeito que estava vestido mesmo: o chinelo, a bermuda, uma camisa larga. Avançava o portão de saída do prédio e encontrava a calçada e de repente já dobrava a esquina, cortando caminho até a avenida, onde carros minguados eram cada vez mais escassos na noite que adentrava a primeira hora da madrugada. Mirando seus olhos, devagar, ele já podia ver o reflexo dos faróis dos carros (tons cinza misturados) com o vazio transparente de vento. Ventava um pouco, mas nada que atrapalhasse o passeio noturno. Nada que atrapalhasse a visão de Júlio que ficava estarrecido com a altura dos meios-fios da calçada. Só lá pelas duas da manhã esperando para atravessar a faixa ele conseguiu se perder de vez ao confundir as cores e os olhos da pedestre que cruzava ao seu redor. Destoado, sem saber o que fazer resolveu não fazer nada. Tomou o caminho de volta para casa por um atalho entre um jardim, pelo qual nunca havia passado – pelo menos de dia. Dobrou a esquina e cortou caminho direto para o prédio. Aos poucos, a noite ia terminar de ser consumida, alimentada por sonhos, olhares, cores.

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