quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Monte Nero - 01

Quando eu cheguei na cidade, eu era muito novo. Não lembro em que ano foi, e os arquivos, com certeza, não contêm essa informação. Eu era muito novo e muito sem instrução, para o colega ver. Mas eu não cheguei sozinho, não. Minha mãe, já falecida, é que me trouxe, sei que era verão, talvez fevereiro. Muito sol na cabeça, essa é uma das minhas primeiras recordações, o mal estar do calor, os mosquitos, o suor escorrendo. Naquela época eu não estava interessado em quase nada também. Se não fosse Inara, eu nem nada faria. Estava bom para mim como estava, quer saber. E se tivesse ficado estando assim, eu estandaria vivendo daquele modo para sempre. Mas aí, ô colega não iria querer tirar umas palavras de mim, e eu não viveria do modo como vivo hoje. Graças a alguma força maior, e talvez a Inara, eu não preciso da ajuda de ninguém pra me manter, ao contrário, se eu perdesse boa parte do que tenho, poderia viver muito bem por muitos anos, sem me mexer. É o que me interessa só, viver o que resta sem maiores incomodações, que eu já me incomodei deveras muito demasiado nessa vida. Se o senhor soubesse tiraria essa cara do riso na hora...Ahn..Por acaso o senhor que saber? Saber é ruim, saber só leva a mais incomodações, saber só leva a querer saber mais e saber mais e saber mais... Conhecer pra quê. Eu não quero mais é conhecer nada, eu não quero mais é saber de ninguém. Encosta esse bloco para lá, tira essa geringonça daqui. Não me interessa compartilhar o tanto que eu já fiz. Os outros querem saber o quê? Só falar já é burocratizar o infinito por demais e você ainda quer transpor tudo isso na palavra escrita? Daí é que vai desperdiçar todo mundo..escrever? Pff, escrever..Não, não, eu posso lhe contar bastante coisa, mas com uma condição: sem anotações, sem gravação de nada. Se o senhor é escritor, vai lembrar como eu falo, ou vai lembrar até melhor do que eu falei. É assim. É assim?

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