domingo, 18 de agosto de 2013

- Vem pra cá

- A Dida morreu

- Alô?

- Vem pra cá

- Sério? Isso foi agora? Como tu tá?

- Não pode vir para cá? Tô sozinha aqui...

- Eu sei, mas...tá, tô indo.


.......

- Ela já tava bem velhinha, né?

- Sim, 15, completou 15 anos mês passado, e eu nem tava lá.

- Como foi isso?

- Minha mãe me ligou agora há pouco, chorando, assim que ela começou a falar eu já sabia. Só podia ser...

- Como tá a dona Fátima?

- Triste, muito triste. Era a única companhia dela lá, né..

- Eu sei, eu sei...mas e tu? Sei o quanto aquela gatinha significava pra ti..

- Sim, cresceu comigo. Nem sei como eu tô, olha, sente só aqui minha mão. Tu sabe, como eu era apegada nela, né, tu sabe. Às vezes ela até dormia com nós na cama, quando a gente ia visitar minha mãe...

- É verdade, manhosa, ela, costumava dormir bem em cima das minhas pernas, quando eu tava lá..de manhã meus pés tavam tudo formigando.

- Sei que é estranho eu te ligar, desculpe, mas eu não sabia com quem mais  falar.

- É, quando eu vi teu nome no celular, eu não esperava, mas tu sabe que, apesar de tudo, tô aqui. Vem cá, vamos secar esse choro. Tu que nunca foi muito de chorar. A Dida tá num lugar melhor..

- E eu nem tava lá para ver ela, que droga, que droga.

- Não se culpa..não iria adiantar, não daria para fazer nada, ela tava velhinha já ..

- Eu só queria deitar mais uma vez com ela, para ela se enrolar na minha perna também. Depois de velha e acomodada ela ficou assim, toda manhosa. Mas quem é que não fica, né?

- É, quem não fica...

.................


- Me abraça..só um pouco..

- ....Eu...

- Só um pouco, amanhã a gente finge que isso não aconteceu, eu finjo que a Dida ainda tá pulando por aí, incomodando as pernas das pessoas e caçando insetos...

- Não sei, acho que eu tenho que ir embora..

- Mas...

- Tá tarde, eu preciso ir.

- Mesmo?

- Mesmo

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