quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Quem te viu, te vê quem



Elaine, esses dias eu pensei, o que aconteceria se tivesse dado certo com a gente? Pensei, fiquei matutando na minha cabeça algumas horas, daí cheguei a conclusão que se a gente tivesse ficado junto, muita coisa poderia ter acontecido. Sim, é uma contestação óbvia, eu sei, mas também temerosa. Há muita possibilidade nisso. E é exatamente isso que me incomoda. Eu gostaria de ter a sensação de que se a gente tivesse ficado junto – se não tivesse acontecido todas essas coisas que aconteceram entre nós –, eu realmente gostaria de ter a sensação de que seria uma merda. Mas não sinto isso, o que eu sinto me instiga. E isso é uma droga, porque Elaine, se você ainda me conhece, sabe que eu sou um cara curioso pra caralho. Então o que teria acontecido com nós? Estaríamos casados? Separados? Teríamos filhos, prestações de contas, um apartamento, uma vida?

Pelo jeito você ainda joga o cabelo para trás quando fica nervosa...Desde quando ele ficou vermelho? Tanto faz...Há muito na suposição que me incomoda. Sei que está feliz agora, que tem outro relacionamento, veja, eu também tenho. Eu também sou um cara feliz, Elaine. Aposto que, talvez, mais feliz do que você realmente será, porque eu te conheço, quando você está feliz vai começar a se sentir no marasmo, e então as coisas vão começar a te entediar e a partir daí é um passo para procurar outra pessoa, outra situação...

Eu só me fico perguntando o que teria acontecido, quantos desenhos a gente teria feito e planos teriam nascido depois de uma noite de bebedeira. Talvez o seu segredo para esse seu relacionamento agora é que você seja infeliz. Algumas pessoas precisam disso para se dar bem. Então, talvez seja isso, talvez nós, se ficássemos juntos, teríamos levado uma vida infeliz, porque, aparentemente, só assim para você se sentir bem, não é, Elaine?

Então, você vai ficar feliz agora, Elaine?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Em sonho, Caio


- Nora, eu tive o sonho mais louco ontem à noite.

- Que sonho, meu benhê?

- Sonhei com o Caio Fernanda Abreu.

- Como assim? Que coisa bizarra.

- Pois é.

- E o que vocês estavam fazendo, heim? Vai virar gay agora, é?

- Não, nada a ver, nada nesse sentido. Foi bizarro, eu não costumo lembrar de sonhos, aliás, nunca os levei muito a sério, mas...

- Peraí, deixa eu anotar isso aqui na agenda para contar para a Janete depois.

- Como assim, sua zuadora...

- Acho que lá vem bomba...quero guardar isso, às vezes sonhos tem significados né.

- Enfim, ele me dizia em forma de verso, quer dizer, ele falava normalmente, mas eu entendia em forma de verso...para de escrever isso...

- Me deixa, continua!

- Ele dizia algo como Manda dizer, por favor/ que os outros estão debochando de mim aqui/ para que tirar todas as minhas frases de contexto, isso só me traz dor/ mande parar de “compartilhar” elas assim por aí

- Ai, amor, acho que você está enlouquecendo. Ou ficando muito tempo no Facebook.

- Hahaha, eu também achei isso, eu também achei isso. Mas parecia tão real! Ele carequinha e tudo mais, como quando estava quase para morrer. Que coisa, né, que coisa.

- Que coisa mesmo. Mais alguma coisa?

- Não, ele só falava isso, depois não lembro de mais nada. Daí acordei, comi alguma coisa, tomei banho, vim falar contigo...

- Para tu ver...Desse jeito, a próxima a vir te assombrar é a Clarice Lispector, heim. E dessa sirigaita, tu toma cuidado, viu?


terça-feira, 20 de setembro de 2011

madrugada, madrugada...



- mamãe faz o melhor pudim do mundo
- ahhh
quero um pedaçoo
hehe
-um dia
se tudo der certo

sábado, 17 de setembro de 2011

O casal mais bonito de todos


- Vem, vamos, rapidinho...só uma vez...

- Eu não sei dançar.

- Para, é só se mexer, só balançar, me segue que eu te mostro.

- Não , não, não sei mesmo, desculpe, não quero..sou... todo descoordenado, você já devia saber disso.

- Eu te mostro como é. Segura aqui em mim...

- Você não desiste, né?

- ...Segura aqui em mim, isso, leve, devagar..agora a outra mão..assim mesmo. Viu, não é tão difícil.

- Não é tão difícil...? E essas pessoas todas olhando a gente, que droga...devo estar todo torto.

- Não tem ninguém nos olhando. E daí se tivesse? Se olharem devem ser inveja...Inveja do casal mais bonito de todos dançando no fim de uma festa.

- Hahaha...Casal mais bonito de todos. Só você mesmo. Você quase me faz acreditar nessas coisas.

- Cuidado com o pé...

- Desculpa, desculpa. Eles devem estar pensando é: “O que aquele desastrado faz com uma mulher tão bonita e elegante como ela?”

- É  o que você realmente acha? Haha...é que eles não sabem como você é bom de papo, né? Apesar de não dançar nadinha...

- O que eu posso fazer se meu coração não deixa os meus pés fazerem o que eles devem fazer?



segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Poema para você ficar


Assim que sair,
tentando não olhar.

Com segundas intenções

vou fingir também
que penso em não mais dançar
seguindo os seus passos.

Vai embora e não olha para trás,
que é só para alimentar mais

o rancor.

Eu ainda sei lhe inventar.

A gente – mesmo sem ninguém,
mesmo sem você
saber –;
ainda pode girar no meio do salão.

Para baixo e para cima.

Como dois que não querem encontrar a manhã.  


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Um ano de Travessia


É, quem diria. Aqui estamos nós um ano depois. Aqui estamos nós em pé, fortes, ainda rendendo, ainda escrevendo. E não estamos menores, isto é, tivemos algumas quedas pelo caminho, mas outros entraram, outros ajudaram a manter o ritmo. Ritmo. Talvez seja isso que explique que uma ideia possa se manter, ficar, permanecer, sabe? Sabe. É o ritmo que se impõe que mantém tudo funcionando. E isso inclui publicações jornalísticas também. O que é uma revista, o que é um jornal, o que é um site se não um organismo vivo? Que produz, que reproduz, que analisa, que respira?

Respirar. É isso que o Nonada vem fazendo há quase um ano. Dia nove agora completaremos com orgulho 365 dias online sem interrupção. E isso não é pouco tempo para uma publicação que visa cobrir o jornalismo cultural com um viés mais aprofundado na internet e de forma independente. Não é pouco mesmo. Quem conhece essa área sabe que há um debate já antigo, mas sempre pertinente, sobre o rumo que o jornalismo que cobre a cultura tomou – principalmente nos jornais de grande circulação. Trata-se de um jornalismo pautado pela agenda, focado, em boa parte, no produto cultural e que não levanta a bunda da cadeira para tentar pensar um pouco mais além do release. Perdemos espaço de crítica, perdemos capacidade de selecionar pautas (já que a maioria delas vem diretamente das assessorias de imprensa para a confortável caixa de correio) e, por fim, perdemos a capacidade de nos revoltar.

Perdemos? Não, nem todo mundo perdeu, nem todo mundo se acostumou, nem todo mundo quer que as coisas continuem iguais. O Nonada veio sim para ser uma publicação que reflete, que seleciona, que busca se aprofundar nas pautas. E o site só chegou ao seu primeiro aniversário de forma independente porque as pessoas acessam e querem ter conteúdo desse tipo. Sim, e na internet – aquela plataforma em que insistem que se deve ser tratada superficialmente, porque se o texto for muito longo “ninguém” vai ler. Algumas das matérias mais acessadas do Nonada são as que tiveram a maior quantidade de caracteres. Se o conteúdo for bom, terá leitura, terá repercussão. Cada vez mais grandes revistas colocam seu conteúdo na internet. Para ilustrar, cito o exemplo da Piauí, que recentemente disponibilizou todo o seu acervo online.

Uma coisa que aprendi com o Nonada é que a gente tem que vencer na insistência. A princípio estava tudo contra nós: um site feito por estudantes (a grande maioria já se formou) cheio de outras obrigações, um site que não gera dinheiro, aborda a área cultural com uma proposta diferente do que a maioria do público está acostumado (logo, nenhum retorno imediato estaria garantido) e na internet ainda! Difícil, né? Difícil pra caramba. Mas estamos vencendo, e isso não é para todo mundo. Só conseguimos chegar até aqui porque fechamos com a ideia de travessia e porque tivemos um retorno positivo do nosso trabalho.

A parceria com a Revista Cult, uma das publicações de jornalismo cultural independente mais interessantes do País, a parceria com o jornal que cobre muito bem a área da literatura, o Jornal Rascunho, as editoras Arquipélago e Record mostram que o nosso trabalho está sendo reconhecido. Todas as citadas estão fornecendo prêmios para o nosso concurso de um ano do site, nesse link você pode acessar e saber como concorrer.

Queria agradecer, em especial, a todo mundo que ajuda a fazer o Nonada, todos que colaboraram em algum momento e, em específico, a aqueles que estão fechados com a ideia e com o site desde o início: Mariana Sirena, Leila Ghiorzi, Ariel Oliveira – que estão desde os primórdios, de pensar, planejar o site e também produzir. E quero também agradecer ao Daniel Sanes e a Mariana Gil que entraram logo que o site foi ao ar, e que realmente abraçaram o espírito de travessia.

Então, que venha mais um ano, mais caminhos e mais desafios. Estamos prontos.