sexta-feira, 25 de julho de 2008

Um novo dia

Querida, Mãe..

É um ambiente bastante quieto e acolhedor aqui, diria que os vizinhos são mais interessados nos seus animais que pastam tranquilos a grama verde – que o sol bem de manhãzinha atravessa – do que nos indivíduos ao redor. São pessoas, realmente, mãe, e não dão bola para os outros. Para o que os outros pensam e fazem. O que eles vestem, comem, brincam, falam. É tão bom, mãe. Mãe, quando eu juntar bastante dinheiro eu vou dar um jeito de conseguir te trazer. Vai ser o ouro, mãe, o ouro. Que nem aquelas férias em que nós fomos para as montanhas, se lembra? Eu, tu, o pai, e Anna. O que aconteceu com a Anna, mãe? Eu nunca mais soube dela. Casou e sumiu. Mas eu não, mãe. Eu fiquei aqui, eu te vi sofrendo, mãe, eu te vi chorando e caindo toda a hora. Eu estava lá, você se lembra, não é? Sim, foi difícil, mas eu tive que partir também, todo mundo tem sua hora, não é, mãe? Achei uma boa terra para a senhora aqui e vou te trazer, mãe. As coisas aí não são boas para a senhora. Aqui a terra é fofa, viva, mãe. Ela fará bem para a senhora, é um ótimo lugar para se descansar, mãe.

Com carinho, Lucas Felt

Contagem, 1948

Um comentário:

Ângela disse...

Gostei. Muito.
E, sabe, acho que todo mundo - uma hora ou outra - percebe que às vezes vale mais a pena ser mais interessado nos seus animais que pastam tranquilos a grama verde do que nos indivíduos ao redor. De qualquer forma, são escolhas.