quinta-feira, 31 de julho de 2008
Teoria número sete: sobre sonhos e vontades distantes.
Quem nunca, durante um sonho bom, acordou – ou foi acordado – abruptamente (não andam respeitando nem o sono mais) e desejou, com todas as forças, voltar imediatamente para o seu delírio maravilhoso noturno? Todo mundo tem essa história. Outras pessoas estão lá sonhando alegres e, de repente, percebem que as situações estão estranhamente perfeitas e, logo, dão – se conta que estão em um sonho. Uma ilusão, uma mentira deslavada que o nosso subconsciente prega. A verdade é que ele só apresenta para nós o que tentamos esconder. O que está lá atrás e não observamos – ou que não queiramos ver. É tudo parte de uma mentira bem maquinada pelo nosso corpo, talvez ele só quisesse nos deixar feliz por certo tempo, quando nos dá um sonho com algo que a pessoa anseie muito e não pode ter, ou talvez ele queira apenas brincar com as nossas vontades. Os sonhos mostram as várias facetas que possuímos, os desejos, os reparos, os medos, a vergonha. Um maior estudo sobre seus significados podem dizer muito sobre o indíviduo, descrevendo as suas vontades internas demasiadamente.
escrevinhado por
Rafael Gloria
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
às
20:21
2 comentários:
Marcadores:
teorias
Obstáculo 7
Jamais deixe seu corpo se acostumar a outro corpo. Depois não há volta. As peles se conhecem, anseiam toques, e mais tarde, quando não houver mais a mínima intimidade entre o casal, entre os amigos, entre duas pessoas unidas por quaisquer laços, elas sofreram interruptamente. Descascam, denotando uma aparência fraca, estranha, visivelmente áspera para o seu dono. E todo o corpo, como uma construção, começa a se implodir, desmoronando por lembranças. A readaptação é o que mais me incomoda: esquecer o cheiro, o jeito, os dedos, as pernas, os medos, os costumes. Abandonar tudo, sofrer por um tempo e simplesmente esquecer – talvez aprendendo com os erros, ou com a situação. Não há maior barreira que essa entre a pessoa e um novo passo. Mas às vezes é preciso destruir para consertar a vida. Tudo começa com uma boa dose de coragem.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Um novo dia
Querida, Mãe..
É um ambiente bastante quieto e acolhedor aqui, diria que os vizinhos são mais interessados nos seus animais que pastam tranquilos a grama verde – que o sol bem de manhãzinha atravessa – do que nos indivíduos ao redor. São pessoas, realmente, mãe, e não dão bola para os outros. Para o que os outros pensam e fazem. O que eles vestem, comem, brincam, falam. É tão bom, mãe. Mãe, quando eu juntar bastante dinheiro eu vou dar um jeito de conseguir te trazer. Vai ser o ouro, mãe, o ouro. Que nem aquelas férias em que nós fomos para as montanhas, se lembra? Eu, tu, o pai, e Anna. O que aconteceu com a Anna, mãe? Eu nunca mais soube dela. Casou e sumiu. Mas eu não, mãe. Eu fiquei aqui, eu te vi sofrendo, mãe, eu te vi chorando e caindo toda a hora. Eu estava lá, você se lembra, não é? Sim, foi difícil, mas eu tive que partir também, todo mundo tem sua hora, não é, mãe? Achei uma boa terra para a senhora aqui e vou te trazer, mãe. As coisas aí não são boas para a senhora. Aqui a terra é fofa, viva, mãe. Ela fará bem para a senhora, é um ótimo lugar para se descansar, mãe.
Com carinho, Lucas Felt
Contagem, 1948
É um ambiente bastante quieto e acolhedor aqui, diria que os vizinhos são mais interessados nos seus animais que pastam tranquilos a grama verde – que o sol bem de manhãzinha atravessa – do que nos indivíduos ao redor. São pessoas, realmente, mãe, e não dão bola para os outros. Para o que os outros pensam e fazem. O que eles vestem, comem, brincam, falam. É tão bom, mãe. Mãe, quando eu juntar bastante dinheiro eu vou dar um jeito de conseguir te trazer. Vai ser o ouro, mãe, o ouro. Que nem aquelas férias em que nós fomos para as montanhas, se lembra? Eu, tu, o pai, e Anna. O que aconteceu com a Anna, mãe? Eu nunca mais soube dela. Casou e sumiu. Mas eu não, mãe. Eu fiquei aqui, eu te vi sofrendo, mãe, eu te vi chorando e caindo toda a hora. Eu estava lá, você se lembra, não é? Sim, foi difícil, mas eu tive que partir também, todo mundo tem sua hora, não é, mãe? Achei uma boa terra para a senhora aqui e vou te trazer, mãe. As coisas aí não são boas para a senhora. Aqui a terra é fofa, viva, mãe. Ela fará bem para a senhora, é um ótimo lugar para se descansar, mãe.
Com carinho, Lucas Felt
Contagem, 1948
escrevinhado por
Rafael Gloria
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
às
19:48
Um comentário:
Marcadores:
Lucas Felt
terça-feira, 22 de julho de 2008
Sem saída.
Moro há vinte anos numa rua sem saída. Sabe como é, sem escapatória, como se cada pensamento, cada pessoa, cada situação que eu atravessasse batesse na parede e retornasse para mim. De novo. Mais uma vez. Outra chance - ou mais uma chateação. Posso dar inúmeros exemplos: a repetição sempre me chama. Logo, aprendi a me acostumar com isso. Substitui o adeus, pelo até mais. O fique bem pelo cuide-se. Quantas situações eu já sabia anteriormente que as encararia novamente? Mulheres, aulas, pessoas, amizades. Viver numa rua fechada, hermética é o significante real do meu ser.
Outra das minhas sinas são as mãos, muito da minha vida pode ser explicado pelos dedos que se quebram no inverno, um problema de pele mal resolvido, a verdade é que necessito deles para começar tudo (ou para repetir tudo) num eterno reciclo de mim mesmo. A rua pela qual eu caminho é uma extensão dos meus pensamentos, ela me preenche e me influência, ela me abraça e me nota, diz tudo que eu já sei, repete comigos ensinamentos chatos, os bons, os ruins, estamos intimamente interligados, porque eu sou um garoto de uma rua sem saída, um cara sem saída.
Outra das minhas sinas são as mãos, muito da minha vida pode ser explicado pelos dedos que se quebram no inverno, um problema de pele mal resolvido, a verdade é que necessito deles para começar tudo (ou para repetir tudo) num eterno reciclo de mim mesmo. A rua pela qual eu caminho é uma extensão dos meus pensamentos, ela me preenche e me influência, ela me abraça e me nota, diz tudo que eu já sei, repete comigos ensinamentos chatos, os bons, os ruins, estamos intimamente interligados, porque eu sou um garoto de uma rua sem saída, um cara sem saída.
sábado, 12 de julho de 2008
Metáforas da vida
As situações explicam as pessoas. As frases que usamos, as palavras, o modo como soltamos as idéias, os pensamentos, os rodeios que montamos, tudo isso nos apresenta. E na maioria das vezes não percebemos isso. Se você abaixar a cabeça para alguma coisa, estará se rendendo para todas as suas futuras ações. Se desviar os olhos no momento do beijo, e ele não sair direito, essa é a metáfora que rege muitas coisas na sua vida: explicitada apenas pelo modo como não encaramos as coisas. Preste a atenção, você está em todas as coisas (e quando digo “coisas”, pense no modo de respirar, caminhar, segurar a caneta) que faz. Os seus atos criam o seu caminho, mancham de destino todo o percurso. Depois tudo vira alegorias,ou melhor, tudo sempre foi metáfora de você mesmo. Suas ações são compelidas a mostrar tudo que você é, logo, as metáforas também podem te ajudar a modificar o que você viria a ser. Fique atento nas situações, repare em cada momento mais ínfimo da sua vida.
(cuide-se)
- Nós poderíamos ter dado certo, você sabe?
- Por que essa mania de colocar o verbo no passado...troque para o futuro..
- Tem certeza disso..você também acha?
- Se continuar com esse receio chato, eu já não sei de mais nada...
- Então que tal...Nós poderemos dar certo..espere...tá certo fala assim?
- Não sei se tá certo, mas eu achei bem melhor...agora me dá um beijo, e não me olha desse jeito, eu tenho que ir.
(Beijo)
- Cuide-se por lá, aproveite.
- Certo...Vou tentar escrever..
- A gente se fala..
- A gente se fala..
- Por que essa mania de colocar o verbo no passado...troque para o futuro..
- Tem certeza disso..você também acha?
- Se continuar com esse receio chato, eu já não sei de mais nada...
- Então que tal...Nós poderemos dar certo..espere...tá certo fala assim?
- Não sei se tá certo, mas eu achei bem melhor...agora me dá um beijo, e não me olha desse jeito, eu tenho que ir.
(Beijo)
- Cuide-se por lá, aproveite.
- Certo...Vou tentar escrever..
- A gente se fala..
- A gente se fala..
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Tal qual Álvares de Azevedo
Carol suspira. Olha para a porta fechada do quarto, seu próprio aposento, depois vira o pescoço, procurando o guarda-roupa, já meio antigo e inadequado para o volume de seus pertences. Enfim, ela pára os movimentos, e fala para Evandro, ou para quem pudesse estar no recinto:
- O que aconteceria se nós morressemos amanhã?
O rapaz não esperava essa pergunta, meio sem jeito, olha para o chão, procurando alguma resposta, como se todas as coisas da vida estivessem por lá. Reluta um instante, observa os olhos misteriosos – e sempre sensuais de Carol – atrás de algum argumento válido (ou ao menos algo não tão idiota para se dizer) e solta:
- Sabe, Carol, quando eu penso nisso, eu sempre me lembro das pessoas que ficariam por aqui, sabe? Como elas se sentiriam...é tão egocêntrico. Mas talvez, não sei, acho que talvez seja uma daquelas coisas que seguram as pessoas...– Carol não olhava para Evandro, parecia só ter olhos para a parede branca, onde pendia um retrato seu, aos quatro anos de idade – acho que é isso, talvez esse egocentrismo segure nossa vida – continuava o rapaz.
Evandro levanta da cama, ainda está nu, começa a se vestir, primeiro a camiseta com listas verdes e brancas, depois a cueca e aos poucos a calça jeans. Faz menção de abrir a cortina a fim de poder ver a claridade, mas Carol faz cara feia. Desistindo da ação, agora vai a procura de um cigarro, depois o banheiro, era preciso lavar as mãos.
- Por que você sempre vai embora depois, Evandro? Eu não sei porque você faz isso, eu não sei...
Primeiro ele finge não ouvir, talvez o barulho da água da torneira o ajudasse no pequeno teatro, mas quando ela repete pela terceira vez não é possível mais enganar.
- Preciso sair porque é tarde, tenho que trabalhar. Por que não se mexe um pouco? Ninguém vai te fazer andar. Ninguém vai vestir você e tocar a sua vida. Não podemos viver no piloto automático sabia...?
Carol toda tapada pelo lençol branco, escuta, mas nem diz nada. É sempre a mesma resposta. Não fazia sentido para ela trabalhar, para quê? O que ganharia com isso? Tudo que ela precisava estava naquele quarto. Fita os olhos no retrato de criança, quase como se sugasse ele todo. Prende os olhos, sentindo toda a vontade de gritar. Mas acaba só dizendo
- Sem espaço para mim nessa vida.
- O que aconteceria se nós morressemos amanhã?
O rapaz não esperava essa pergunta, meio sem jeito, olha para o chão, procurando alguma resposta, como se todas as coisas da vida estivessem por lá. Reluta um instante, observa os olhos misteriosos – e sempre sensuais de Carol – atrás de algum argumento válido (ou ao menos algo não tão idiota para se dizer) e solta:
- Sabe, Carol, quando eu penso nisso, eu sempre me lembro das pessoas que ficariam por aqui, sabe? Como elas se sentiriam...é tão egocêntrico. Mas talvez, não sei, acho que talvez seja uma daquelas coisas que seguram as pessoas...– Carol não olhava para Evandro, parecia só ter olhos para a parede branca, onde pendia um retrato seu, aos quatro anos de idade – acho que é isso, talvez esse egocentrismo segure nossa vida – continuava o rapaz.
Evandro levanta da cama, ainda está nu, começa a se vestir, primeiro a camiseta com listas verdes e brancas, depois a cueca e aos poucos a calça jeans. Faz menção de abrir a cortina a fim de poder ver a claridade, mas Carol faz cara feia. Desistindo da ação, agora vai a procura de um cigarro, depois o banheiro, era preciso lavar as mãos.
- Por que você sempre vai embora depois, Evandro? Eu não sei porque você faz isso, eu não sei...
Primeiro ele finge não ouvir, talvez o barulho da água da torneira o ajudasse no pequeno teatro, mas quando ela repete pela terceira vez não é possível mais enganar.
- Preciso sair porque é tarde, tenho que trabalhar. Por que não se mexe um pouco? Ninguém vai te fazer andar. Ninguém vai vestir você e tocar a sua vida. Não podemos viver no piloto automático sabia...?
Carol toda tapada pelo lençol branco, escuta, mas nem diz nada. É sempre a mesma resposta. Não fazia sentido para ela trabalhar, para quê? O que ganharia com isso? Tudo que ela precisava estava naquele quarto. Fita os olhos no retrato de criança, quase como se sugasse ele todo. Prende os olhos, sentindo toda a vontade de gritar. Mas acaba só dizendo
- Sem espaço para mim nessa vida.
Assinar:
Postagens (Atom)