Oi, gente.
Pois é, já faz anos e anos que não escrevo aqui.
E não sei realmente se alguém vai ler.
Mas eu amo esse blog e esses textos, que contam uma parte importante da minha vida.
Não pretendo acabar com esse blog, mas sinto que não faz mais sentido escrever aqui.
E estou tentando voltar a escrever com mais afinco.
Levo o espírito do Contagens para a plataforma Medium.
O endereço é esse aqui: https://medium.com/contagens.
Também tenho minha página no Facebook, aqui: https://www.facebook.com/rafaelsilveiragloria/
Vou voltar a escrever periodicamente, mesmo com uma dissertação acontecendo.
A vida é o que a gente leva do passado.
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Esquina para dois
Vejo-a, novamente, entre tantas pessoas,
é escandalosa e impertinente
(costumava subir em meus ouvidos e
me desafiar com as maiores
baixarias)
Agora suspira, melindrosa, descansando
no meio de tantos corpos da rua;
Não me reconhece ou apenas faz-me crer que não.
A despeito continua sem jeito em tratamento.
Sempre teve receio de se enturmar,
exibida, dizia que precisava relaxar
Arrumava amor novo a cada fim de semana e
eles só queriam o que ela podia dar.
Desse jeito ela navegou
até se machucar.
Entre tantos corpos cantando na rua,
só eu a vi chegar, esquecida
envolta, carregada de feridas.
Eu apenas deixei ela passar,
Decidida ou não sei
Aonde você quer estar?
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Rafael Gloria
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07:10
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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
27 da noite
Enquanto converso
já é quase 27
da noite.
Há anos, lia-se o Conhecer
em colo da vó
para menos temer
o primeiro dia escolar.
Dorme e já é quase o Médio,
com primeiro beijo sob a lua
no quarto em construção.
Mãos suas, mãos suadas.
Quatro dias de provas
para tentar passar a vida escrevendo.
Mas escrever o quê? Para quem? Quando? Como? Onde?
Por quê?
A gente escolheu se enrolar em nós,
quando a vida segue fluxo de riso,
engatinhando para todos os lados
de várias bocas.
Veio você, você, você, você e você.
Ficaram glórias e tragédias impressas
em jornal.
E o quase nada do Rosa
ainda navegando .
A gente dança entre tragos e estragos.
Vou me mexer até não aguentar mais na cama.
Já é quase fim de noite e o 27 acompanha.
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Rafael Gloria
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16:21
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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
Carentia
Não que nada vá ficar
dela em mim:
Só essa carência
impetuosa, nojenta.
O medo de perder
que te fez ver várias outras
pernas;
abraçar vários outros
corpos;
deitar com tantos
no escuro.
Esquecer é a resposta
para tanto desencanto.
A gente anda é morrendo,
enquanto devaneios.
Um ao outro despistando
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Rafael Gloria
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21:38
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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Ninguém vai lembrar – 04
O amigo pode não acreditar, mas é a pura verdade: não há
nada mais fiel nesse mundo que um cachorro. É claro que recordo como o Faísca
entrou na minha vida, mas o que eu quero mesmo é contar como ele saiu. E, para
isso, vou ter que pular alguns punhados de anos. Contar é isso também, não?
Posso ir e voltar a hora que eu achar melhor. De acordo? Às vezes quando vou
dormir tarde da noite, beirando às duas da manhã, quase que posso sentir o
ronco do velho Faísca deitado ao pé da cama, me ajudando a vencer as noites sem
sono. Não sou bom em descrições, mas é difícil esquecer um amigo como ele. De
porte médio, o pelo raso e claro, Faísca virou Faísca, porque corria muito:
ardia os olhos quando ele se metia a sumir atrás de um daqueles pássaros do
campo. Mesmo depois de velho ele ainda podia subir um monte mais rápido que eu.
Faísca. Faísca durou uns 15 anos, ou melhor, viveu, porque animal não dura,
permanece, vive. Você sabia que os
cachorros podem ter as mesmas doenças que os homens têm? Na época, eu não tinha
muita ideia que cachorro também podia ter câncer, ataque do coração; não,
achava que cachorro tinha doença de cachorro. Quer ver Faísca era mais homem
que muito homem por aí...Não sei, mas sabia que havia algo errado, quando ele
começou a ficar quieto, apenas em cantos de casa, quase não me acompanhava mais
em meus passeios diários pela propriedade. Faísca, velho Faísca, por onde anda.
Visitamos um médico de animal que recentemente tinha se mudado e ele
diagnosticou câncer, mas como podia ser câncer se essa praga só dava em ser
humano. E ainda era um câncer que já tinha espalhado, pelas patas, pelo
fígado...Não haveria muitos dias, mas ainda haveria muita dor, me contou. Enquanto
Faísca me olhava quieto e eu olhava para Faísca, já em casa, eu tive a sensação
de que só eu iria lembrar do Faísca e ninguém mais. Mal se lembram de familiar
depois que morre, imagina de um cachorro. Ninguém vai lembrar. Resolvi, então, aliviar
o velho Faísca que já chorava de dor até dormir. Escuta bem, porque nunca mais
vou contar isso: peguei no colo e parece que ele já sabia, de certa forma, pois
me olhava com os olhos bem maiores que o de costume, olhos de quando era
filhote e voava pelo pátio. Caminhamos até o horizonte da minha propriedade que
dava em uma grama rasa que ele costumava comer quando jovem e dormir quando
mais velho. Depositei-o ali e puxei o revólver que sempre carregava comigo.
Naquela época, não haviam os tais remédios para aliviar a dor, o que mais eu
poderia fazer, o que mais. Nunca mais esqueci aqueles olhos antes de atirar
entre eles, antes de não mais emitirem nada. Não eram olhos de súplica, eram de
afeto, carinho. Olhos que eu nunca esqueci e que agora, espero, você também não.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
Desperto, e é cedo
Não para de dançar,
se não eu paro também
e te esqueço.
Chega de fingir,
que eu silêncio e te vejo
desaparecer aos poucos,
também:
Quem disse que era para ser?
Quem disse que ia resolver?
Aqui, já tá tarde,
para qualquer esforço.
Fora (já saio),
desassossego é praxe.
e posto a nossa frente,
rente em mim
distante em ti.Deixo você
dançar
- só dançar -,
enquanto tudo desperta
e sou levado pelos primeiros
pássaros da manhã.
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Rafael Gloria
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20:53
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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
Carta 15
Desculpe ficar assim, mas é que eu não me controlo. É
ridículo, eu sei, e eu não queria ficar desse modo. Estou mais leve escrevendo.
Ainda é cedo para tanta coisa e eu nem sei o que te escrever agora, porque eu
sinto um misto de tanto e a grande maioria desse tanto está na minha cabeça.
Mas por que você tinha que mentir para mim? Eu sei, eu sempre quero saber de
tudo, mesmo sabendo, na verdade, que é esse tudo que vai acabar com nós. O que
eu posso fazer? Dos teus casos, dos teus descasos. Por que a carência é tão
importante para você? Por que não ficar sozinho, por que dar, dar, dar. Isso
tem algum valor? Adiantou alguma coisa? Deus no céu e alguém no chão. O que
restou disso tudo? Eu apareci, mas poderia ser qualquer um. Não? É o convívio
velado que dói e os sonhos e recordações suas espalhadas por ambientes em que
não existem ou existem em uma realidade paralela. Uma realidade com sucursal em
lugares que você esteve, dando dando dando, por aí. Para quê. A cama é nossa, e
já foi de quantos. Estou escrevendo assim, porque me sinto melhor soltando essas
ideias bizarras e quero ver se consigo dormir de noite agora, enquanto neva e o sol vem
degelar os carros congelados da madrugada.
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Rafael Gloria
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08:35
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Carta
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
Eu não sou mais eu
Lembro quando comecei esse blog há exatos sete anos. Eu não
sabia o que escrever e me surgiu a ideia de iniciar o primeiro texto com uma
curiosidade asteca que teria acontecido naquele dia, ou seja, hoje, 17 de
dezembro.
Por mais que eu tenha diminuído a frequência de postagens
aqui no Contagens, ele continua sendo uma das atividades que eu mais gosto
nessa vida. Reconheço-me e desconheço-me em muitas desses textos. Eu não sou
mais aquele que eu era. E eu ainda sou um pouco daquilo que eu fui e,
provavelmente, continuarei sendo – até o momento fatídico de não ser mais.
O momento, talvez, uma das palavras que defina o Contagens.
Ano passado, praticamente há quase 365 dias escrevi o texto
“Agora, é claro”,
resumindo aquele 2013, que fora péssimo para mim, assim como eu fora péssimo
para ele. Em 2014, eu acreditei e aceitei mais. Comecei a entender melhor o meu
compromisso como jornalista e pude delinear o que posso vir a fazer.
A vida, de modo geral, ainda continua confusa para mim, mas agora
consigo observar melhor o que sempre foi claro e consistente durante todos
esses anos. Eu posso ver aqui dentro de mim, e, desse modo, eu também posso ver
refletido no Contagens. As respostas que
eu preciso sempre estiveram variando entre esses dois lugares, esperando o
momento certo de caírem no meu colo.
E, mesmo assim, é difícil chegar a elas, porque não são
redondas, ou prontas. Elas se transformam também, assim como esse blog, assim
como eu.
Escrever é a chave de tudo. Assim como o jornalismo cultural
na minha vida profissional. E a importância que eu dou para os relacionamentos.
Minha vida gira em torno disso tudo. E me transforma periodicamente. Pois,
então, decidi escrever mais, trabalhar mais com o jornalismo cultural e prezar
ainda mais pelos meus relacionamentos.
Sete anos não é pouco.
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Retalhos de tempo - Boyhood
*Não sei o que mais me marcou em Boyhood, são tantas cenas e
momentos importantes nessas três horas de filme. A começar pelo projeto ambicioso do
Linklater, um dos responsáveis por brincar com o tempo, como na trilogia Antes do...Em outro de seus filmes, o Jovens, Loucos e Rebeldes ele também já
trazia esse assunto da mudança, de passar para outra fase ao abordar a
juventude nos anos setenta e a transição para o que eles chamam de high
school. Mas todos esses filmes citados
tem a característica de não terem um grande acontecimento em suas histórias. A
trilogia é conversa, atrás de conversa, já os Jovens é a rotina de amigos que estão crescendo, mudando de vida, e
agora em Boyhood presenciamos uma série
de acontecimentos na vida do jovem Mason, saindo da infância, alcançando a
juventude e a chegando à faculdade. Não há um plot twist: é a vida assim apresentada
e filmada ao longo de 12 anos. Acontece que ali cada período daria um outro
filme completo, mas isso não é o importante, aqui realmente cada pedaço vale
mais que a soma, porque nós vemos a vida não como uma totalidade, mas como
retalhos. Contamos histórias e deixamos outra para trás - não contamos. Por
isso que o choro desesperador da mãe de Manson no fim é tão comovedor, “eu
achei que teria mais tempo”, diz ela. É, todos nós achamos. Várias cenas ficam
na cabeça dessa história reveladora porque traz um pouco de cada um, e
principalmente daqueles que cresceram juntamente com Manson, todas referências
da cultura pop (outra coisa que o Linklater faz muito bem), estão ali. De
Yellow à Arcade Fire. Para todos aqueles que se questionam e se perguntam mais
sobre a vida, ver como o jovem Manson cresce e se descobre insatisfeito e sempre
pronto para experimentar é mergulhar na própria história.
*Nova série de posts, em que vou escrever rapidamente sobre algum tipo de produto cultural (filme, livros, jogos, quadro,etc) rapidamente, de forma mais instintiva do que analítica. Reforçando mais minhas impressões do que qualquer coisa.
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
Dois perdidos em uma noite deserta
A primeira impressão que eu tive ao chegar em seu
apartamento é que era tudo tão organizado para aquela bagunça que ela
aparentava ser. Mas desde quando um riso
agitado e uma forma de mexer os braços efusivamente significam tragédia
organizacional? Sempre tive um problema em julgar pessoas, vai saber. Certo que
eu a conheci há apenas algumas horas, ainda na fila daquela festa que, meu deus,
estava um saco. Para falar a verdade, eu já não esperava muita coisa por ali,
mas, mesmo assim, fui arrastado por uns amigos e pela possibilidade de acabar
bem a noite. E por acabar bem a noite
vocês devem saber que algo como sexo sem compromisso, conhecer alguém legal,
beber e não vomitar já seriam o suficiente. Não necessariamente nessa ordem,
mas ok, talvez nessa ordem de importância.
Era tarde e tinha essa mulher agitada um pouco atrás da fila
da festa e que não parava de falar alto sobre uma banda que eu gosto bastante e
de como eles são incríveis e de como ela foi a todos os shows que eles fizeram
no País...E eu quase já não gostava mais da banda, quando tentando apenas
interromper, acabei começando uma conversa que foi andando mais depressa do que
todo o resto da fila e deixando de lado as pessoas ao nosso redor, quando vimos
já estávamos na festa e rapidamente à frente do seu apartamento.
417.
Tarde da noite e eu ali esperando ela encontrar a chave
certa. Tarde da noite, eu com as mãos metidas no bolso, sem graça. Lembrava da
última vez que havia feito algo assim, fazia tempo. Não estou me referindo ao
sexo, mas ao sexo com outra pessoa que não fosse minha ex-namorada. Confesso,
agora, que não sou um homem muito expressivo em conversas, gosto mais de
escutar para, depois, tentar esboçar um raciocínio, mas tudo fluiu tão
rapidamente que não tinha como não ir para a casa dela, para acabar “bem” a
noite, para, então, se tornar algo que eu não esperava que acontecesse e que,
desse modo, fosse uma surpresa a qual eu pudesse me gabar no dia seguinte para
os mais chegados: “Se lembra daquela guria da fila da festa ontem? Pois é, fui
para a casa dela...” Mas no fundo eu sabia que nada disso realmente importava e
que as minhas mãos no bolso apenas esclareciam tudo, elas praticamente falavam
que se a gente só conversasse já estaria ok e eu ficaria feliz, porque eu
queria conversar sobre coisas sérias e não tinha conseguido fazer isso com
ninguém ainda. E, com ela, tinha visto uma abertura. Uma pequena brecha nessa
eterna fechadura comprimida que é vida.
Meio bêbado a gente pensa em cada coisa.
Quando , enfim, ela conseguiu abrir a porta, pude ver o
apartamento organizado milimetricamente. Na estante gigante que encobria toda a
parede da sala vários livros de todos os tipos, no qual os de filosofia tomavam
a frente. Um pouco bêbada, chegou dançando entre os sofás e ligou o som. Olha a
nossa banda favorita aí novamente. É verdade, é verdade, eu sabia que você ia
gostar, nossa, esse é melhor álbum deles, não é? Não sei, acho que prefiro o
material antigo. Sim, sim, pode ser. No canto, perto do sofá um imenso gato
deitava da forma mais confortável do mundo, encarando-me, abrindo e fechando os
olhos. Nós acordamos o seu gato, que fatalidade. Qual o nome dele? Dela! Minha
única fiel companheira nessa vida, se chama Minerva, a gata. Haha, Minerva como
o sabão em pó? Não, Minerva como a deusa romana, sabe? Da sabedoria e das
artes...Eu sei, eu sei, estava só brincando contigo. Ah, sim, haha. Mas não
brinque muito com ela, ela morde, cuidado. É difícil de ganhar dela em uma
briga. Falou isso me mostrando uns arranhões no braço e deixou a sala, disse
que ia tomar banho, estava muito cansada e queria tirar aquele cheiro de fila
dela, aquele cheiro da festa. Eu concordei e sentei no sofá.
Chuveiro ligado.
Era uma e meia da manhã. E eu só imaginava o modo como a
água descia pelo seu corpo. Ao mesmo tempo, a gata Minerva sai do seu
cesto-altar e tal como uma deusa, imponente caminha em minha direção. Olhos
fixos, ela estanca em minha frente, encostando a cabeça em minha perna. Acaricio-a
com um gesto de respeito e afeto, o que ela parece entender. Como é a sua dona,
Minerva? Ela te alimenta bem? Pelo jeito sim, né? Pelo jeito sim. Me conta mais
sobre ela, me conta. A gata entorta a cabeça, lambe a pata e vira de costas.
Atrás de algo mais interessante. Acompanho a caminhada e reparo nas fotos em
cima da estante, todas de paisagem, nenhuma de pessoas, nenhuma dela. A música
continuava tocando, uma das minhas faixas favoritas.
Chuveiro desligado.
Do banheiro, então, surge pela porta uma nuvem de vapor da
água e por meio da neblina improvisada: ela, enrolada de toalha. As pernas
morenas e o sorriso aberto. Cabelo molhado escorrendo nas costas, pés sem
chinelo, não se importando em sujar o chão, porque ela era assim, ou parecia
ser assim, não sei. Disse que ia ao quarto, se vestir, mas que era para eu
continuar ali, a esperando. Tá certo, respondi, com as mãos no bolso, olhando
ela ir embora.
Tá certo, agora pensei, respirando para imaginar o que
poderia acontecer. Estava nervoso como se fosse a primeira vez, a primeira vez
de muitas vezes? Não sei. Tá certo, o que eu poderia fazer? Estava destinado a
levá-la para o quarto. Agora que eu consegui entrar no apartamento dela, no
meio da madrugada, depois daquela festa terrível, eu, enfim, precisava “acabar
bem a noite”. Tá certo, a gata Minerva pensava me olhando. Você está pronto? Estou,
Minerva. Eu acho. Não sei, Minerva. Eu queria estar pronto? Queria até, eu
queria depois que vi a tolha amarrada no corpo dela. Ela disse para eu esperar
e eu vou continuar esperando. A gente espera tanta coisa na vida, Minerva. Acho
que passou uns 5 minutos, porque tocou duas músicas e o álbum tem músicas
curtas, quando ela saiu do quarto,
sonolenta em uma camisola toda acordada, olhando para mim com os olhos cansados
e uns olhos assim que eu me lembro de ter visto só algumas vezes em tão poucas
pessoas, que eu não sei se era a bebida, a minha confusão, a Minerva me
perguntando se eu estava pronto, mas eu resolvi simplesmente pegá-la pela mão e
juntos arrastarmos nossos corpos juntos pelo carpete da sala em uma dança juntos
quase caindo enquanto um riso improvisado mais alto dela tropeçava em mim. E nem
era a minha música favorita.
De repente ficou tudo tão tarde e ficamos tão cansados que
ela simplesmente puxou meu braço, levando-me ao quarto, o tão destinado quarto. A
tarefa da noite. O álbum já acabara e a gata Minerva dormia. Enrolada na
camisola, enrolada na toalha e em mim, ela me puxava. Vem, vamos dormir. Tá
tarde. Vem, vamos para a cama. Você vem? Esbarrei na estante e nela e depois na porta e acabei deitando ao seu lado. Os seios encostando em mim, abraçando como se me conhecesse há séculos. Ela, então, virou a cabeça para o lado, deixando os cabelos em meus ombros, como se lá fossem o lugar de origem deles, e dormiu.
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