Queria ter ido dormir mais cedo naquela noite, tanto que já havia preparado a cama, desligado o computador e agora só dependia dos seus pensamentos para apagar. Confuso, suas vergonhas e lembranças criavam pernas e caminhavam sobre a cama, invadindo o cobertor, misturando-se com o lençol, criando tempestade de braços.
Tinha receio de que não conseguisse, enfim, sonhar e isso só o deixava cada vez mais agitado. Toda a mente lhe corria. Lembrou-se de vergonhas, coisas de colégio, humilhações exploratórias que em questão de segundo sumiam para dar lugar a alguma desfeita mais recente. Desafetos também apareciam, e como. Amores traidores, amores traídos, amigos desleais, atitudes não realizadas, todo o tipo de desgraça por que já havia passado agora atravessava seus olhos, como um filme.
Sem opção de dormir no meio, se acostumou a observar a paisagem desagradante. Acostumou tanto que acabou pegando no sono, finalmente, com todo desespero que ansiava acabou fechando os olhos e - finalmente, mais uma vez - sonhou. E sonhando viu a vida se repetir melhor.
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