Queria conseguir-lhe escrever mais sobre tudo que está
acontecendo comigo nesse momento. Mas eu não consigo. Agora que você cruzou
para o outro lado, não tem quase mais ninguém para eu falar o que é importante.
Não no dia a dia. É tarde. É muito tarde para qualquer mentira, apesar de eu
costumeiramente me cobrir com elas quase sempre. O que será que anda
acontecendo comigo. Em que parte da história eu perdi o rumo. É o que venho me
perguntando nos últimos dias. Acho que é
tarde demais para epifanias, o bom que é tarde demais e tarde demais é essencial
para bons sonhos também. Sinto muito, ando transmitindo pouco. Tenho irregular
prazer nas coisas pequenas, justamente as que deveriam nos trazer mais prazer. Prazer
é felicidade? Não sei. Ando desejando
pouco porque não tenho um grande objetivo à minha frente, acho. Meu objetivo
atual era aproveitar o momento, simplesmente, sem pensar muito no futuro, sem
se apegar ao passado. Porém, acho que isso pode me tornar cínico para caramba –
como se não bastasse eu ter isso de família. Durmo demais e de menos, quando
acordo as coisas não mudam. O tempo anda uma merda atualmente, está nublado e
quente. O sol se esconde só de babaca, enfornando todo mundo para depois sumir
por uns dias e voltar. Não me lembro de algum outro fevereiro assim. Um
fevereiro nublado e chato. A gente acaba sendo um pouco de mercadoria, ocupando
horários com trabalhos remunerados, travando conversas que não vão levar a
lugar algum, se incomodando com os problemas dos outros. Se estressando com
faltas de linhas, de declarações. No final, tudo vira um jogo de preencher
espaços. Talvez a vida seja um pouco disso, não é. A gente sempre se sente um
pouco vazio em alguma parte, tentando desesperadamente preenchê-lo, nem que
para isso tenha que desocupar outro espaço.
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