segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Carta 08

Sugestão para escutar lendo: http://www.youtube.com/watch?v=7ZZcZHWw9eM&NR=1&feature=fvwp


Eu to indo embora. Para mim já chega. São sete horas da noite agora, e eu não poderia estar mais feliz. Vou lembrar mais uma vez para esquecer para sempre. Stanley Clarke manuseia o seu comovente contrabaixo em Sweet Baby enquanto eu acabo de preparar tudo.

"It's you, sweet baby/ Ever always been captured By your smile, sweet baby".

Não quero ninguém chorando depois, quero sim que façam piada, quero sim que me xinguem, e que digam que eu não precisava ir agora, quero sim que me xinguem e que digam que eu fiz a coisa certa. Todos sempre estão enganados mesmo. Eu já vesti o terno, eu já coloquei a gravata que o meu vô me ensinou a dar nó. Espero encontrar com ele. Espero encontrar com ele e com a minha vó.

Vai ser exatamente quando a música chegar no fim, eu deixei tudo planejado. Falta pouco tempo para surtir o tal efeito. Mistura forte, tempo contado. A gente não se lembra de muita coisa a essa hora. Nem quero lembrar, nem, ao menos, quero ver alguma coisa. Quero dormir. Quero dormir na praia branca de minha infância novamente. Quero ser criança para sempre.

Quero para sempre a sensação da primeira vez. Lá está de volta o primeiro beijo em Katiane, eu todo nervoso, ela já mais velha, já era mais experiente. Katiane dois anos mais velha na minha frente. Aquela sensação novamente antes de ir embora. Os lábios molhados frescos dela debaixo do sol no interior de Santa Catarina.

"Lying here alone, I'm dreaming/ My mind keeps wanderin/ My thoughts are only you/Wandering through the/Memories in my mind"

Os pés frescos da noite. Para nunca mais. A primeira leitura visceral que me marcou, as viagens por dentro da terra de Julio verne. Eu querendo ser navegador, eu queria um barco. Eu fazia um barco de papel para balançar dentro da improvisada bacia de mamãe, enquanto ela brigava na sala. Era tudo tão obsceno e cruel. Tão ardente que virei marinheiro. Tão chato que resolvi viajar para nunca mais encontrar

eles.

Pessoas necessariamente não tem porto. Queria mais uma vez o abraço do melhor amigo que há anos não vejo, o entardercer do dia de uma praia qualquer. Queria por última vez, agora que a música acaba, queria ser apenas parte da areia de uma praia que não existe mais. Quero dormir todos os sonhos necessários. Descansar a ferida antes de aportar.

"Oh, it's you, sweet baby/ I will never be free/ From your embrace, sweet baby/ Only hoping it's not/ Too late to try again"

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