Casal fotografado por Cartier Bresson |
Acho engraçado alguns textos que são replicados por meus contatos na timeline do facebook. A maioria deles são sobre como os homens deveriam agir com as mulheres, e,
obviamente, a maioria desses textos são escritos por homens que se vangloriam
(mesmo falando que essa não é a intenção) de ter muita experiência com elas.
Por mais que muitas vezes bem camuflados, a maioria desses textos reproduz a
ideia de que há uma receita para um relacionamento dar certo, quando não, não
há receita ou comportamento que vá garantir seu sucesso com o sexo oposto, ou o
sucesso no seu namoro.
Acontece que é muito mais atrativo vender uma ideia pronta.
Um caminho. As pessoas, em geral, são preguiçosas para pensar, ou até para
questionar as próprias pequenas atitudes do cotidiano. Para nós, o problema
sempre é com a outra pessoa. Afinal, o que
eu poderia fazer de errado, não é verdade? Além disso, parece haver uma pequena
implicância com a questão sobre relacionamentos, como se fosse algo típico
apenas ao gênero feminino. Exemplificando, podemos com frequência observar isso
no cinema, com os filmes de romance. De modo geral, há a tendência de que eles
seriam realizados para o gosto feminino, quando o bom filme de romance foca no
relacionamento do casal, nos dois, nas dificuldades, nos bons momentos, nos
piores momentos, na imensa trajetória de suas vidas. Por isso é tão difícil achar
bons filmes desse gênero (e eles existem), e por isso também é muito difícil
achar escritores, textos que transmitam algo que vale a pena ser lido sobre
relacionamentos.
É que falar sobre relacionamentos não implica em receitas ou
em descrever atitudes ou experiências, trata-se de entender uma vida, uma vida
compartilhada. E quando me refiro a entender significa ter experimentado ou
observado algumas situações, e também ter refletido em cima daquelas vivências.
Já que somos seres comunicativos, precisamos de informações e de experiências
para criarmos a nossa visão de mundo, e, consequentemente, para criamos a nossa
visão de um relacionamento. Pode parecer
clichê, mas um dos meus filmes favoritos do gênero é Annie Hall, do Woody
Allen, em que é nos apresentado uma relação contada pelo narrador em off. Desde
o começo do filme, sabemos que eles não acabam juntos, mas, mesmo assim, ele
vai nos apresentando a história. Como se conheceram, o primeiro beijo, as
brigas, etc. É impossível não criar uma afeição pelo casal, por suas histórias –
mesmo sabendo que não vai acabar bem. Tudo isso vem regado a sua ótima reflexão
final, que deixo aqui com vocês:
E é fato que a maioria dos relacionamentos de sua vida não vai dar certo. Isto é, você não viverá com a pessoa para sempre. Não haverá o momento feliz, depois de duas horas, como um filme. As coisas simplesmente não são assim, mas é aí que reside a graça também. A vida está nas entrelinhas e nos aprendizados quase que diários, em notar as suas evoluções, que você realmente não se importa mais com algo que lhe incomodava até um tempo atrás. Que você amadureceu, nem que seja um pouquinho. E que um pouquinho dos outros ficou em você também. E que tudo isso vai nos modificando até sermos algo novo, em eterna constância. – ou inconstância. Quanto a fórmulas ou receitas: uma hora, a gente aprende alguns meandros, alguns detalhes que se repetem entre as pessoas, mas isso não é uma regra. Não há regras quando se fala de afeto, não há padrão para o amor.
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