Lembro do meu vô sentado no degrau em frente ao portão de
casa. Parado, às vezes passava horas lá, sozinho, pensando, analisando o
movimento da rua, veja só uma rua sem saída. Sempre foi simpático ele, sempre
foi de brincar com os outros chamando de apelidos diferentes, mas talvez o que
eu mais me lembre do meu vô seja o modo como ele cortava a bergamota. Deslizava
a faca sob a pele laranja bronzeada, quase crocante da fruta, cortando-a
gentilmente , praticamente moldando, tal como um artesanato. Então, metia os
dedos para tirar as sementes, que ficavam por ali, na rua mesmo, para algum pássaro catar. Depois desse pequeno processo, pegava a metade da bergamota e a desfrutava
também devagar, lentamente, com legítimo prazer. Não importava o tempo, o
clima, lá estava ele logo depois de almoçar. Sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário