quinta-feira, 11 de abril de 2013

bergamotas para sempre



Lembro do meu vô sentado no degrau em frente ao portão de casa. Parado, às vezes passava horas lá, sozinho, pensando, analisando o movimento da rua, veja só uma rua sem saída. Sempre foi simpático ele, sempre foi de brincar com os outros chamando de apelidos diferentes, mas talvez o que eu mais me lembre do meu vô seja o modo como ele cortava a bergamota. Deslizava a faca sob a pele laranja bronzeada, quase crocante da fruta, cortando-a gentilmente , praticamente moldando, tal como um artesanato. Então, metia os dedos para tirar as sementes, que ficavam por ali, na rua mesmo, para algum pássaro catar. Depois desse pequeno processo, pegava a metade da bergamota e a desfrutava também devagar, lentamente, com legítimo prazer. Não importava o tempo, o clima, lá estava ele logo depois de almoçar. Sempre.  

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