Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Cidade Baixa
Achei que o conhecia, ou que, pelo menos, já o havia visto
Barba mal feita, os trajes horripilantes;
Como quem deita ao relento e se descobre – infelizmente – sóbrio;
Pensei em virar a cara, fingir que falava ao celular
Inóspito, antipático, ácido, amargo.
Mas afavelmente ele me dobrou e como se quisesse vender
(Vender algo, afinal todos deles querem vender algo) ou
pedir
(Pedir algo, afinal todos eles querem pedir algo), apenas
perguntou.
Como eu estava, aonde eu ia, o que eu fazia.
Tenho medos eternos de simplicidades, de perguntas
genéricas.
Não saberia responder nenhuma delas, tudo se apagara repentinamente,
As razões começaram a dissipar
Devagar, via me abarcando em uma genérica paranóia.
Em um gesto de defesa, ataquei meus bolsos atrás de moedas
Como que para espantá-lo
Como que para sanar as minhas dúvidas
Onde eu estava? O que eu estava fazendo
Ao meio dia e meia daquele bairro?
Por que Deus eu devia fazer o que eu devia fazer?
Por fim, encontrei alguns trocados
Mais do que rapidamente os evacuei do bolso
Sem emitir nenhuma sílaba atirei ao senhor
Que as catou ajoelhado, sem nenhuma vergonha,
Esboçou sorriso de uma esquálida gentileza,
De uma estratégica alegria.
E foi embora.
Recompus-me em meros segundos, mais aliviado
Relembrei das tarefas, do trabalho árduo, mas necessário
A maleta na mão, o sapato, as roupas, tudo confortava
novamente.
*poema homenagem/ releitura lamentável
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