quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Aquela que sempre sentava com as pernas cruzadas

Era meia noite e pouco quando o tédio veio lhe bater a porta. Abriu, recostou-se na cama e começou a ler o jornal. 32 mortes no último feriadão, isso só no estado. Era tarde demais para algumas pessoas. Leu os nomes que estavam citados um a um, na notícia enorme, que ocupava um pouco mais da metade da lauda. Começou a pensar como seria interessante a vida de cada uma dessas pessoas, começou a pensar também em quantas coisas elas deixaram para trás – e isso nem sempre significa lamentação. Viu um nome que lhe chamou a atenção: Ana Munareto. Ana. Munaretto. É claro, da época do colégio. Era dessa época que ele a conhecera. Aquela guria que sempre sentava com as pernas cruzadas. Aninha. Poucas amigas, poucas falas. Ao lado do nome dela, a idade: 24 anos. Ela morreu indo para a praia, afinal é verão. E o sol torra todo mundo lá fora. Aninha felizmente não era de falar muito.

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