Roland Barthes é o cara. O pai da semiótica desbravou um mundo novo de sugestões e signficados com o seu livro "Mitologias" em meados do século passado, analisando os principais mitos da sociedade francesa, essa obra foi a base para um trabalho que fiz sobre o mito "Paul Is Dead", o qual vou postar aqui em partes:
Análise do maior mito da história do Rock: “Paul Is Dead”
Introdução
Antes de começar a análise, gostaria de falar um pouco sobre a minha escolha, e sobre esse grande grupo. Beatles é a minha banda favorita, talvez por influência do meu pai que também é um grande fã. Acontece que os acordes, as melodias e as letras tocam-me profundamente, as vozes ritmadas e as histórias que envolvem o quarteto de Liverpool sempre me interessaram, o modo como ditavam a moda, como se preocupavam com algumas causas, o jeito único de cada componente, e esses estilos singulares combinando-se para uma formação coesa e musicalmente perfeita. Tudo isso envolveu uma geração toda e continua fascinando as próximas (como é o meu caso) e isso ocorrerá perpetuamente, pois já faz parte da história, algo que realmente deveria ser lecionado na escola, na possível cadeira de “História da música”. A banda se formou no final da década de 50 na cidade portuária de Liverpool, na Inglaterra, composta por George Harrison (guitarra e vocal), John Lennon (guitarra e vocal), Paul McCartney (contrabaixo e vocal) e Ringo Star (bateria e vocal). É o grupo musical mais bem sucedido da história, e o que certamente mais influenciou outras bandas, todos os seus membros eram – e são – aclamados por público e crítica, com mais de um bilhão de álbuns vendidos em todo o mundo, sendo que 20 músicas alcançaram o topo das paradas nos Estados Unidos (fato que ninguém ainda conseguiu bater). Mas o impacto não foi apenas sobre a música, mas também sobre a moda e o comportamento, os cortes de cabelos e os trejeitos moldaram toda uma geração. Pela inventiva criatividade, e magia de suas músicas, Paul McCartney e John Lennon são considerados a maior dupla de compositores da música popular em todo o mundo.
Paul Is Dead?
Roland Barthes já dizia que “o mito é uma fala”, isto é, um sistema de comunicação, uma mensagem, ele não pode ser um objeto ou uma idéia, pois é um modo de significação, uma forma, e são necessárias condições especiais para que a linguagem se transforme em mito, e foi exatamente isso o que aconteceu no final da década de sessenta. Mais precisamente em 1969, quando a suposta “morte” de Paul foi anunciada no dia 12 de Outubro em uma rádio de Detroit prefixo WKNR-FM nos Estados Unidos, pelo Disc Jockey Russ Gibb. O radialista havia recebido uma ligação de um fã inveterado que encontrara pistas nos álbuns dos Beatles as quais indicavam a suposta morte de Paul McCartney. Russ Gibb neste dia leu a lista das pistas no ar e também improvisou algumas mais. Para seu espanto, os jornais locais levaram a sério esta brincadeira e publicaram a tal lista. No final do mês de outubro os boatos tinham se espalhado de tal forma nos Estados Unidos que obrigaram Paul McCartney, em férias na Escócia, a vir a público desmentir os boatos sobre a sua morte. A partir daí, vários livros foram escritos e cada vez mais novos "fatos" foram sendo "encontrados" e adicionados à lista de indícios sobre a sua morte. Como diria Barthes “Cada objeto do mundo pode passar de uma existência fechada, muda, a um estado oral, aberto à apropriação da sociedade, pois nenhuma lei, natural ou não, pode impedir-nos de nos falar das coisas”, todos esses fatos citados das capas dos álbuns e trechos de música, mais o fato que os Beatles haviam parado de fazer shows ao vivo, e um possível acidente de moto de Paul (que na verdade só o machucou um pouco, não o matou) contribuíram e construíram na criação do mito, que depois os próprios integrantes do grupo começaram a brincar usando as capas do álbuns e as letras da música para nutri-lo.
A construção do mito
Paul teria morrido em um acidente de carro às 5 da manhã de uma quinta feira tendo sofrido esmagamento craniano ou decapitado durante o acidente, ele teria perdido os seus ossos e os seus dentes, impedindo assim a indentificação, percebam como há a forte influência dos “fait divers”, isto é, o trágico, esse mito especificamente começa com um acidente no mínimo inusitado, no qual a cabeça fora “decapitada” e até os dentes haviam sumido. Dessa forma eles poderiam o substituir por um sósia, para isso foi feito um concurso nacional de sósias de Paul McCarney (tudo às escondidas, é claro), o escolhido fora Bily Shears, que teria passado por algumas operações plásticas a fim de aumentar sua semelhança com o beatles morto, e poder substituí-lo. A única falha da cirurgia é que ocorrera um desacerto no lábio inferior, uma pequena cicatriz. Com o sósia colocado no lugar do verdadeiro beatle os outros componentes e produtores da banda teriam começado a divulgar pistas para que seus fã pudessem descobrir que o verdadeiro Paul havia morrido. Algumas pitas são banais, mas importantes para a construção do mito, pois trabalham com o imaginário dos fãs da banda, mais uma vez segundo Barthes “todas as matérias primas do mito, quer sejam representativas, quer gráficas, pressupõem uma consciência significante, e é por isso que se pode raciocinar sobre eles independentemente da sua matéria”, cada pista tem a sua significância no contexto do mito, e vamos procurar e analisá-las álbum por álbum, procurando todos os símbolos e seus devidos significados que ajudaram a construir o mais famoso mito da história do Rock’roll.
continua..
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