Eu tava meio acordado, meio sonhando. E então comecei a sonhar mesmo porque me vi transportado para a sala da casa dos meus avós. Acho que é dia, está tudo iluminado, não lembro exatamente dos detalhes, mas dos detalhes das sensações. Tava iluminado e eu almoçava com a minha avó, só nós dois na mesa. Minha avó mais jovem, mas não tão jovem quanto eu, talvez lá pela casa dos 50 anos. Parecia mais disposta, com certeza, do que está agora. Agora ela se encontra no hospital depois de passar por mais uma cirurgia e não se tem certeza do que pode ocorrer. Mas agora só estamos nós como nos velhos tempos, quando eu ia almoçar na casa dela e comia a sua comida, que era boa, e continua bem boa, bem cheia de sensações e cheiros que o sonho parecia intensificar. A gente conversa sobre suas preocupações com o cotidiano, das suas preocupações comigo quando eu saio à noite. Você está estudando? O orgulho de ter me mostrado livros e dizer que me ajudou a ler, desde pequeno eu sempre gostei de ler ela dizia, desde pequeno ele já demonstrava saber das coisas. E eu nunca dei bola porque eu sabia que ela me tinha em alta estima, ela gostava demasiadamente de mim; e eu que nunca fui lá muito bom em demonstrar meus sentimentos, aprendi com ela a tentar demonstrar mais. Sempre houve uma facilidade em me ler da parte dela e eu não sei exatamente o porquê, talvez eu fosse muito vulnerável e ela muito perspicaz. Depois disso, fomos para a cozinha que fica do lado da sala, levar os pratos, os garfos, a louça suja para serem limpas. E eu não me lembro exatamente o que ficamos fazendo durante aquele período de tempo. Mas me lembro da cozinha, e posso dizer que parecia diferente de como está agora. Será que meu sonho havia voltado no tempo também? Eram azulejos azuis espalhados pelas paredes e você sabe como isso funciona, uma mesa, armários de madeira com detalhes nos lances de puxá-los na cor prateada. Era uma sensação de pós-almoço no domingo, quando todos nós íamos nos reunir na casa deles, algo que nunca mais fizemos, algo que nunca mais fora a mesma coisa. Acho que desse ano ela não passa. Não sei, é, mas ela disse que me amava algumas vezes na cozinha e eu me lembro que eu já estava visivelmente emocionado, e que tudo parecia tão real porque tudo também era muito confuso. Foi aí que ouvi uma risada muito semelhante ao meu falecido avô que morrera há um ano e meio por problema no coração no hospital, a cara dele morto no velório não parecia nada com ele e eu que não fui vê-lo no hospital, não sei porque, por medo talvez por ele não estar consciente, talvez porque nunca fomos tão próximos. A risada conhecida continuava quando ela entrou acompanhada do meu avô na cozinha normalmente, como se também tivesse acabado de almoçar, como se estivesse estado sempre ali com o prato na mão sujo, levando para a pia. Era algo tão real que eu quase caí da cadeira de susto e ao mesmo tempo não me senti em nenhum momento com medo, sentia a luz clara e forte enquanto ele simplesmente ia embora por alguma porta e é claro que deve ser tudo parte da minha imaginação, das sinapses do meu sistema nervoso arrependido por nunca ter dito certas palavras para ele. Resolvi então ignorar que isso não era a realidade e eu gritei, ou falei alto não sei, para ele ouvir eu te amo, desculpe por nunca ter dito isso enquanto você estava vivo. Foi só isso que consegui dizer, mas tudo parecia tão real que sinto como se tivesse dito de verdade. E o que não é memória, o sonho, a vida se não tentativas absurdas de se conseguir dizer o que você realmente quer dizer? Depois disso acordei e já era de manhã cedo, levantei e com uma sensação de felicidade e um pouco de tristeza também fui para o computador escrever, escrever, escrever.
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