Caro, Zé
Um dia desses você me perguntou quando se sabe o momento que acaba o amor. Eu não soube o que responder na hora, esboçei alguma tentativa falha e acabei nos clichês, como “é quando você deixa de se importar com a pessoa”, ou coisas assim. Mas nós somos amigos há um tempo, e você já me conhece, sou daquele tipo que precisa pensar antes de falar, ou até necessito escrever, para organizar as ideias – ainda mais para uma pergunta tão difícil como essa. Então, nada melhor do que escrever essa carta.
A minha resposta a sua pergunta, entretanto, é: não sei. O que posso te falar é que amar alguém não é uma decisão, não é uma escolha sua. Você não pode fazer uma lista de pessoas com quem você pode se relacionar e simplesmente escolher uma. Bom, não é assim que funciona – mas isso você já sabe. Então, talvez a pergunta certa para você no momento seja: como é que foi que nasceu esse amor?
É sempre a partir do passado que se pode olhar para o futuro, não é? E é justamente a partir disso que a gente se dá conta dos momentos juntos, e se realmente vale a pena lutar por eles. Não confunda o amor com um jogo, ou que se tenha certas regras para cada pessoa. Não dá para inventar labirintos na sua cabeça, não dá para se levar pela imaginação quando se trata de pessoas. Quando falo lutar, falo de abrir espaços, de ceder, de procurar entender o outro.
E isso é difícil pra caramba.
Logo, não há um momento certo em que acaba o amor – ou que se sabe que acaba o amor. Há rastros, há pistas, há fatos, que levam a crer nisso. Há o tempo, há toda uma história que vocês montaram e que pode – ou não – acabar lentamente com vocês dois e só depende de vocês dois permitir isso ou não. Não sou nenhuma droga de especialista, mas, você sabe, pelo que eu já passei e acho que também posso falar um pouco a respeito. Não com tanta propriedade, porque, bem, quando se trata de amor ninguém pode falar com tanta propriedade assim.
Mas, você sabe, às vezes as pessoas combinam e às vezes não.
Um abraço,
Lucas F.