Neil Young toca nas caixas de som. É pouco mais de duas
horas da tarde. Estou acordado há umas oito horas, quase. Um pouco menos. O sol está forte lá fora. E tem um monte de
livros sobre a minha mesa. Eu os peguei ontem na minha antiga faculdade. A gata
chega perto do meu pé, meu pé que mesmo com meia, está gelado. Ela sai agora,
caminha, se apoia nos livros e esboça se deitar, mas desiste. No meu quarto não bate muito sol, e ela prefere
o sol. Quem não prefere?
Estou dando um tempo entre o almoço e o voltar a estudar. Na
verdade, sinto que estou dando um tempo há certo tempo, para ser redundantemente
explicativo. Foi preciso para voltar a acreditar nas minhas possibilidades, nos
projetos, para tentar abrir um caminho em toda essa confusão que foi o semestre
passado. Não gosto de papo de autoajuda, ou, pior, autoafirmação, mas é preciso
tomar uma atitude quando você chega a certas encruzilhadas.
Vai ficar e desistir? Vai continuar em barco que só promete
afundar? Vai deixar ir?
Há tempo que eu estava perdendo para mim mesmo, deixando
passar oportunidades por achar que eu não seria simplesmente capaz de fazer.
Quando, em outros tempos, eu tirava de letra. Não cheguei a essa encruzilhada
por nada. Ao me formar jornalista, profissão
que continuo admirando, percebi certa distância do meu pensamento com a lógica
do mercado dominante (fato que, obviamente já crescia forte em mim, mas depois
de formado, floresceu). Somado a isso o fim de um relacionamento (não quero
entrar em detalhes aqui para não tirar a privacidade de ninguém), me levou a
uma pequena grande crise do homem comum formado há pouco tempo. Meu primeiro
semestre todo foi de retomadas, de reconscientizações, de nutrir impulsos para descobrir
ser capaz de apostar novamente em mim. E, desse modo, sair da minha concha para
voltar a minha função – mesmo ainda não sabendo bem qual ela é.
Não necessariamente
ser forte, mas se sentir forte..., como diria o protagonista (baseado em personagem real) de “Na
Natureza Selvagem”. Um cara que queria viver simplesmente, desraigado da sociedade
em que não compartilhava dos mesmos ideais. Talvez o segredo seja por aí:
sentir-se capaz de mudar a sua profissão, a sua rotina, a vida. Ainda mais em
um momento em que se luta cada vez mais por mudanças sociais, acho que todos
nós passamos um pouco por uma crise de identidade, uma crise em que em alguns
pode se agravar ainda mais, e que, em outros, pode não afetar quase em nada o
comportamento. Em mim, balançou, admito. Fiquei paralisado por muito tempo até
conseguir me retomar – ainda estou, é verdade, no processo, ainda estou “entre”
muita coisa. E isso não é algo fácil de admitir, mas é só admitindo que se
torna vivo, que os problemas aparecem na nossa frente e conseguimos combatê-los.
É só assim que, sei lá, você consegue andar, consegue pular do barco afundando,
todas essas metáforas bobinhas, mas necessárias.
Eu ainda não sei exatamente
o que vai ser, mas eu sei que está um pouco a minha frente. Estou quase
alcançando, já dá até para ver. Talvez, estivesse lá o tempo todo e eu não vi.
Talvez, seja algo totalmente novo. Só sei que será diferente de agora, e isso
já é alguma coisa por que se vale lutar.