Gustavo era o responsável pelo caderno de carros do jornal de menor prestígio de Curitiba.
Não recebia muito bem, mas pelo menos podia viajar a convite das empresas.
Fazia o test-drive para depois escrever sobre a sensação de dirigir.
Os carros estavam em várias vezes no jornal.
Terça-feira ele pegou um fiat e quase se acidentou.
Sobre o assunto escreveu uma resenha terrível.
O editor não comprou a ideia.
O carro era popular.
Ia vender, lucrar.
Anunciar.
Julio resolveu ter um carro e juntava dinheiro para um zero.
Barato, mais prestações e propaganda - era óbvio.
Ao sair da loja, uma semana tudo certo.
Até a direção morrer.
Cair no arroio.
Afogar.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
domingo, 25 de agosto de 2013
Paixão, entretanto
Ninguém sabe dizer ao certo o exato momento em que se
apaixona por uma pessoa. Todos conhecemos, entretanto, aquela sensação pulsante que te prende, que
te faz querer estar com o outro. É essa mesma sensação que pode vir a crescer
tanto e unir dois indivíduos antes desconhecidos, ou não, em um relacionamento.
Tenho amigas e amigos, porém, que frequentemente estão em dúvidas, assombrados
por algo que muitas vezes parece se assemelhar a um jogo de caça ao rato, ou
pior, a um jogo de adivinhações, cheio de paranoias e preocupações demasiadas
(ele não me ligou, ela viu a mensagem e não respondeu na – insira a rede social
ou o dispositivo tecnológico aqui – etc.). Quando tudo ficou tão complicado?
Faço um paralelo com a sociedade estadunidense, baseada em
competição desenfreada, maior país capitalista, e, por consequência, um paralelo
com os produtos culturais que ela produz. Muito da linguagem utilizada por eles,quando
falam sobre relacionamentos, vem do jogo, do esporte. Além, é claro, do termo “date”,
o encontro. Parece que há fases padronizadas para se conhecer uma pessoa. “First
base”, “Second Base”, “Third Base”, termos utilizados no Beisebol e também
figuras de linguagem para certos comportamentos, que seriam quase que
cumulativos – do tipo, já estamos no terceiro encontro, então é hora de rolar o
sexo. Como se tudo fosse assim tão regrado, como se existisse uma normatização para
o desconhecido. Quanto a isso, acredito absolutamente que não há, o contato é
anárquico e literalmente revolucionário para o seu sistema. Por isso não há
ordem nesse caos todo.
Há sim evidências, há pequenas pistas, há atitudes sutis que
podem indicar um caminho em comum para ambos. Mas isso deveria vir naturalmente
e sem muito esforço, sem tantas brigas, sem tantos joguinhos, paranoias ou
padronizações. Há gente que valoriza demais a dificuldade em conquistar alguém,
a dificuldade em manter aquele relacionamento, quando o contrário me parece bem
mais necessário. A leveza é sempre mais interessante e, no final das contas, não
gera tanto ressentimento. Minha experiência, pelo menos, sugere isso: todas as
mulheres importantes da minha vida até então simplesmente demonstraram
interesse também – sem tantos jogos, sem tanto medo.
Não posso relatar com
certeza o exato momento em que me descobri apaixonado, mas guardo alguns dos indícios
de que poderia ser feliz com elas – até para lembrar, quando acontecer de novo.
A menina que me olhava na escola e cuja carta eu, relutante, enviei. ; a ruiva
extrovertida que pegou na minha mão durante um show; aquela que eu deixei um
recado no Orkut e em seguida nos conhecemos; a moça do interior que eu ainda
confundo com saudade. Todas também tomaram a iniciativa, ou retribuíram sem
hesitar a atenção que dei a elas. Quando insisti demasiadamente, ou tentei
combater a frieza e escárnio da indiferença, não obtive sucesso. E, nos raros
casos que obtive, não foi para frente.
Lembrei daquele velho
ditado que diz que só há duas pessoas no mundo: “Você e todo o resto”. Mas, se lembre
de que isso vale para os outros também. Então nos vários e diferentes relacionamentos
não pense só em você, mas também no outro – se ele ainda quer, se você está perdendo o seu
tempo – por que, às vezes, simplesmente não é para acontecer.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Gira mundo
No inverno, é verdade que elas se escondem, ou melhor, se camuflam
a partir das mais diversas fantasias, das mais diversas roupas, dos ornamentos
em forma de cachecóis enrolados majestosamente no pescoço. Sejam sérias,
bem-humoradas, sacanas, pueris, amorosas. O frio as faz ficarem mais contidas,
mas isso não significa que parem de se comunicar ou se comuniquem menos. Não,
só há formas diferentes falar. É só
prestar a atenção para ver que sempre que andam cansadas, ligam o “foda-se” e não
se maquiam totalmente, esquecem-se daquela parte que não seria esquecida em
qualquer outro dia normal – e é isso que faz toda a diferença. Saem para a rua,
um pouco mais irritadas, pisando mais firme no chão, mais propensas a não
aguentar as suas baboseiras e, meu amigo, eu sei que você é propenso a falar
muitas besteiras. Mas elas são seres, se não superiores a você, muito melhores
em vários quesitos e entre esses quesitos está a capacidade de se reinventar,
de mudar tudo, de ficar confusa e de se entregar, porque isso é parte da vida ,
algo tão difícil para nós. E é essa entrega, que pode ser contida, ou não, que
pode ser alegre, ou não, que pode ser derretida, ou não, é que faz esse nosso
mundo pequenino girar. E se tornar grande, se tornar confuso, se tornar certo,
se tornar propício para morar com uma pessoa. Morar em uma pessoa, você e ela morando
juntos, tão diferentes, tão perto. Sem se perguntar o porquê, é lá onde mora o
amor.
domingo, 18 de agosto de 2013
- Vem pra cá
- A Dida morreu
- Alô?
- Vem pra cá
- Sério? Isso foi agora? Como tu tá?
- Não pode vir para cá? Tô sozinha aqui...
- Eu sei, mas...tá, tô indo.
.......
- Ela já tava bem velhinha, né?
- Sim, 15, completou 15 anos mês passado, e eu nem tava lá.
- Como foi isso?
- Minha mãe me ligou agora há pouco, chorando, assim que ela começou a falar eu já sabia. Só podia ser...
- Como tá a dona Fátima?
- Triste, muito triste. Era a única companhia dela lá, né..
- Eu sei, eu sei...mas e tu? Sei o quanto aquela gatinha significava pra ti..
- Sim, cresceu comigo. Nem sei como eu tô, olha, sente só aqui minha mão. Tu sabe, como eu era apegada nela, né, tu sabe. Às vezes ela até dormia com nós na cama, quando a gente ia visitar minha mãe...
- É verdade, manhosa, ela, costumava dormir bem em cima das minhas pernas, quando eu tava lá..de manhã meus pés tavam tudo formigando.
- Sei que é estranho eu te ligar, desculpe, mas eu não sabia com quem mais falar.
- É, quando eu vi teu nome no celular, eu não esperava, mas tu sabe que, apesar de tudo, tô aqui. Vem cá, vamos secar esse choro. Tu que nunca foi muito de chorar. A Dida tá num lugar melhor..
- E eu nem tava lá para ver ela, que droga, que droga.
- Não se culpa..não iria adiantar, não daria para fazer nada, ela tava velhinha já ..
- Eu só queria deitar mais uma vez com ela, para ela se enrolar na minha perna também. Depois de velha e acomodada ela ficou assim, toda manhosa. Mas quem é que não fica, né?
- É, quem não fica...
.................
- Me abraça..só um pouco..
- ....Eu...
- Só um pouco, amanhã a gente finge que isso não aconteceu, eu finjo que a Dida ainda tá pulando por aí, incomodando as pernas das pessoas e caçando insetos...
- Não sei, acho que eu tenho que ir embora..
- Mas...
- Tá tarde, eu preciso ir.
- Mesmo?
- Mesmo
- Alô?
- Vem pra cá
- Sério? Isso foi agora? Como tu tá?
- Não pode vir para cá? Tô sozinha aqui...
- Eu sei, mas...tá, tô indo.
.......
- Ela já tava bem velhinha, né?
- Sim, 15, completou 15 anos mês passado, e eu nem tava lá.
- Como foi isso?
- Minha mãe me ligou agora há pouco, chorando, assim que ela começou a falar eu já sabia. Só podia ser...
- Como tá a dona Fátima?
- Triste, muito triste. Era a única companhia dela lá, né..
- Eu sei, eu sei...mas e tu? Sei o quanto aquela gatinha significava pra ti..
- Sim, cresceu comigo. Nem sei como eu tô, olha, sente só aqui minha mão. Tu sabe, como eu era apegada nela, né, tu sabe. Às vezes ela até dormia com nós na cama, quando a gente ia visitar minha mãe...
- É verdade, manhosa, ela, costumava dormir bem em cima das minhas pernas, quando eu tava lá..de manhã meus pés tavam tudo formigando.
- Sei que é estranho eu te ligar, desculpe, mas eu não sabia com quem mais falar.
- É, quando eu vi teu nome no celular, eu não esperava, mas tu sabe que, apesar de tudo, tô aqui. Vem cá, vamos secar esse choro. Tu que nunca foi muito de chorar. A Dida tá num lugar melhor..
- E eu nem tava lá para ver ela, que droga, que droga.
- Não se culpa..não iria adiantar, não daria para fazer nada, ela tava velhinha já ..
- Eu só queria deitar mais uma vez com ela, para ela se enrolar na minha perna também. Depois de velha e acomodada ela ficou assim, toda manhosa. Mas quem é que não fica, né?
- É, quem não fica...
.................
- Me abraça..só um pouco..
- ....Eu...
- Só um pouco, amanhã a gente finge que isso não aconteceu, eu finjo que a Dida ainda tá pulando por aí, incomodando as pernas das pessoas e caçando insetos...
- Não sei, acho que eu tenho que ir embora..
- Mas...
- Tá tarde, eu preciso ir.
- Mesmo?
- Mesmo
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Minha, nossa, tua, dele
Acho que a vi hoje de novo,
ou foi ele quem a viu.
Era mesmo quem achava que ainda era.
Passando pela rua, sem deixar de ver ninguém e sem ninguém a
ver.
Quieta, enquanto se distanciava
e eu muito longe.
Era ele quem olhava
Também quieto, abandonava os olhos.
“E se eu fosse puro, mas eu não sou.
E se fosse sagaz, desviaria para outros braços:
Gozados, dormentes, novos.”
Se eu fosse ele, acabaria com o sono que falta,
fecharia os olhos para dormir diferente
toda a noite.
escrevinhado por
Rafael Gloria
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às
18:46
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poemas
domingo, 4 de agosto de 2013
de ti antes de mim
- Você parece que nem precisa se arrumar pra ficar toda
bonita assim.
- Ah, mas eu me arrumo, sabe, eu gasto um tempo mesmo na
frente do espelho. Eu gosto. Eu me arrumo é pra mim.
- Eu sei, eu sei. É pra você antes de tudo, assim que tem
que ser, a gente tem que se gostar antes que os outros gostem da gente.
- Aham..
- Mas eu acho que eu gosto de ti antes de mim, pode ser? Nem tô, é verdade. Só queria dizer de uma vez.
Aí já me solto mais.
- Desde quando isso?
- Não sei bem, acho que quando te vi lá na praça, quando nos
conhecemos. Nossa, nem sei quando descobri: acontece que brotou, e era isso. Mas nem sei,
sempre tive vergonha, mas tive vontade de te falar, ainda mais agora que tu tá assim, tão bonita, tão maquiada.
Olha, é verdade, gosto antes de ti e depois de mim.
- Olha, nem sei o que dizer
- Nem fala nada, deixa eu só te olhar um pouco, aproveitar o
frio na barriga. Deixa tudo pra depois e olha, olha para as nossas mãos como ficam bem juntas...
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