quarta-feira, 22 de maio de 2013

Ato I - Dormir

Queria ter ido dormir mais cedo naquela noite, tanto que já havia preparado a cama, desligado o computador e agora só dependia dos seus pensamentos para  apagar. Confuso, suas vergonhas e lembranças criavam pernas e caminhavam sobre a cama, invadindo o cobertor, misturando-se com o lençol, criando tempestade de braços.

Tinha receio de que não conseguisse, enfim, sonhar e isso só o deixava cada vez mais agitado. Toda a mente lhe corria. Lembrou-se de vergonhas, coisas de colégio, humilhações exploratórias que em questão de segundo sumiam para dar lugar a alguma desfeita mais recente. Desafetos também apareciam, e como. Amores traidores, amores traídos, amigos desleais, atitudes não realizadas, todo o tipo de desgraça por que já havia passado agora atravessava seus olhos, como um filme.

Sem opção de dormir no meio, se acostumou a observar a paisagem desagradante. Acostumou tanto que acabou pegando no sono, finalmente,  com todo desespero que ansiava  acabou fechando os olhos e - finalmente, mais uma vez - sonhou. E sonhando viu a vida se repetir melhor.

sábado, 11 de maio de 2013

Que finge recomeçar


Está nos meus ouvidos de novo
e diz que nunca irá embora.

Fala com os cotovelos
de dores que o corpo chora.

E se inquieto
e nego,
ela
me consome.

Aos poucos, por descaso,
apago e dormindo
encontro-a novamente;
Altiva, ainda, percorre
meus lados, meus calçados,
sorrindo o espaço
aqui ausente.

É quando tento expulsá-la:
Esperta, se tinge de cores diferentes,
cores que nem sei definir.

E tudo fica brilhante e puro.

Nauseante como um fim que finge recomeçar.