sábado, 31 de julho de 2010

Não compartilhe tudo, por favor – Teoria número trinta e um

Estava lendo um artigo na Folha Online sobre as mudanças que a Internet e as redes sociais causaram no comportamento das pessoas. Mais do que apenas uma modificação, trata-se de uma verdadeira revolução calcada no compartilhamento extremo de informações, um verdadeiro show de exibicionismo. Atualmente se twitta qualquer coisa que muitas vezes não são necessárias para ninguém, a não ser para a pessoa que twittou. Entretanto milhares de pessoas deixam suas marcas em blogs, facebook, orkut, inlikee, etc.


O problema é que estamos tão acostumados com isso que daqui a pouco não poderemos esquecer mais nada. Sim, é o absurdo fim do esquecimento. Os restos virtuais deixam traços do passado, toda ora voltando e embrulhando o seu estômago.


É preciso dar uma chance ao esquecimento.


Faz parte da vida também esquecer algumas atitudes, acontecimentos, passados. Não dá para viver relembrando tudo, algumas coisas também devem ser esquecidas, então pense bem antes de compartilhar tudo online, antes de se exibir, você provavelmente voltará a ler isso no futuro. E será que você realmente vai querer ler e se lembrar disso?

Crônicas de um repórter novato - parte XIX

Não é fácil começar um grande projeto. E falo por experiência própria, pois estou tocando juntamente com mais oito pessoas o Nonada – Jornalismo Travessia (www.nonada.com.br) que tem data de estreia para o mês de setembro, no dia nove. É um site na área do Jornalismo cultural, onde queremos fazer matérias com mais profundidade, reportagens culturais na internet mesmo.


Há várias etapas: contratação de uma webdesigner, e a partir daí reuniões semanais com o grupo para discutir o layout, o logo. Ainda se tem que escrever o projeto de trabalho, discutir as primeiras pautas, angariar funções para cada editor. Então arranjar fotógrafos para as pautas, pensar na produção do podcast e do videocast. Sim, porque queremos utilizar todas as opções que a Internet oferece. Então faremos vídeos editoriais de apresentação.


Daí é mais uma confusão de juntar as nove pessoas, que também tem estágio e outras ocupações, para se gravar o futuro vídeo editorial. Lembrando que ninguém ganhará nada para trabalhar no site. É um pessoal interessado em mostrar serviço e fazer as coisas com qualidade – quem sabe, depois, as coisas não se ajeitam?


Apesar de ser uma correria é muito legar ver a sua ideia tomando forma e sendo também modificada pelas pessoas que entram no processo. As ideias ganham vida e correm se forem boas, é claro que com muito trabalho e planejamento dos participantes. Estamos nos esforçando para trazer as melhores matérias para o público. E dia nove de setembro estaremos aí.


Obs: em breve precisaremos de colaboradores, se alguém se interessar, por favor, entrar em contato (nonada@nonada.com.br).


quinta-feira, 29 de julho de 2010

Obstáculo 31

As reticências. A enrolação. É a sensação de que você tem que fazer o negócio, mas não termina, não vai em frente e fica atrasando, atrasando, até chegar a um ponto em que não dá mais, não conseguirá fazer aquilo e acaba desistindo. Estou quase nesse estágio agora.

Mas não, não sou tão fraco.

Acabarei fechando aquela matéria, decupando as entrevistas e tentando fazer o melhor possível - mesmo que isso me cause um cansaço e um sono que eu não mereço. Ou mereço porque fico procrastinando?

Não sei, mas algo me diz que tenho um mérito na arte de enrolar os afazeres, passar uma desculpa e depois me ferrar com os atalhos do tempo. Mas eu sempre dou um jeito.

Sempre, não é?

terça-feira, 27 de julho de 2010

“Todos meus amigos têm sido campeões em tudo”

E você não tem nenhum dinheiro a mais na carteira no fim da noite. Tem o dinheiro exato, contado; extrato da conta negativa, sem o pai para bancar todos os seus problemas. E você que não acumula nem uma grande viagem para o estrangeiro, não sabe como é a vida em outro país – enquanto todos os outros, os seus amigos já passaram algum tempo na Europa vendo coisas que você, provavelmente, nunca verá. E eles comentam sobre o rio Danúbio à noite e depois descansam sobre os seus problemas superficiais, usando termos como “balada”, “noite”, e dizem fazer muito mais do que realmente fazem. E também falam de assuntos importantes, de política, de bens culturais como se dominassem toda a linguagem necessária para isso. Entram rapidamente em consenso, fazem gestos positivos com a cabeça selando acordo para esconder a mediocridade.“Nunca conheci quem tivesse levado porrada”. E você mal consegue dormir a noite se preocupando com o futuro. E você que escorrega por dúvidas e trabalha por quase nada. E você que esculpi ideias adornando frutos que provavelmente não brotarão. E você que só pelos livros conhece o fog londrino. “Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Aspas do senhor Fernando Pessoa.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Do que elas não querem saber - Postagem Temática

- Já tá pronta?

- Calma, calma, amor

- Estamos quase atrasados, você sabe..como a minha mãe é com horários..

- Relaxa...você sabe que ela me adora...

- É...

- Olha só, já estou indo para o quarto, deixa só eu dar os últimos retoques.

- Ok, ok...estava lendo o jornal agora há pouco..sabia que o preço do petróleo aumentou novamente?

- Ah é...?

- Bom para os negócios...

- Amor, estou indo para aí!

- Acho que vamos ter mais lucros...

- Tãnan! O que acha?

- Ahn..

- O que foi? Eu fiquei gorda com esse vestido?

- Não, claro que não..esse vermelho escarlate não te deixou maior não..

- Como assim "te deixou maior"? Você acha que eu engordei? É isso?!

- Não, amor, de maneira alguma...talvez a cor..

- O que tem a cor?

- Talvez ela te deixe mais chamativa, talvez ela passe a sensação de expansão..

- Sensação de expansão? Seu idiota, você acha que eu engordei sim...chega, não vou mais na festa da sua mãe.

- Para Débora, para com isso, claro que não acho. Você está magrinha, linda, como nos casamos. Se lembra?

- Seu mentiroso, só está falando para me agradar.

- É verdade, está linda, toda gatona ainda nesse vestido vermelhão. Muitas gurias teriam inveja desse corpo!

- É?

- Sim, é claro. Agora vamos, estamos atrasados! E você sabe como é a minha mãe com atrasos..

- Então não estou gorda, né?

- Não, amor, claro que não.

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Essa postagem faz parte do projeto Blogsintonizados. Entre lá e participe você também!

terça-feira, 20 de julho de 2010

Quebrou todos os protocolos

A cara de cansada me encarando às 23h45min.

Roubou o copo da minha mão

e foi diretamente para o

meio da pista

onde contorceu as coxas

os quadris e todo o corpo

em velocidade altamente impressionante.


Pum-pa-patim-pum-pa


Encheu com gelo e vodka e

renegou companhia a noite inteira.

Fez acordo pré-nupcial

com a pista e quebrou

todos os protocolos,

todas as táticas

de aproximação.


As inúmeras metodologias

desenvolvidas ao longo de anos.


Pum-pa-patim-pumpa-pumpa


Tudo que restou

foi a sinceridade brega do fim-da-noite

de quem vai embora desacompanhado.


domingo, 18 de julho de 2010

Brincando nas nuvens - Com ilustração


Embala as nuvens,
modelando com cuidado.

Em forma,
formará animais,
coelhos, vacas, bodes.

Mão suave
para não desmanchar
esse sonho.

Sonho que apenas
brincou de começar.


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A ilustração desse mês é uma foto tirada por mim, a modelo é minha irmã mais nova, Juliana Gloria.


quarta-feira, 14 de julho de 2010

Meu arranha céu

Cobriu os pés com as meias avermelhadas, procurando calor. Esparramou os dedos por aquele tecido coberto de linhas e emaranhado de lã fabricada manualmente por alguma senhora antiga, com uma máquina velhinha. Começou a pensar em sua vó e deixou o queixo cair até a mão. Morreu tão sozinha aos 82 anos de idade, toda enrugada a danada. “Braba, toda braba. Tinha raiva de gente”, lembrou. E começou a esticar a perna e o pé já todo coberto pela nova meia que ganhara e começou a virar a cabeça para trás, aos poucos. Acabou caindo, caindo com as costas para o chão, o carpete todo marrom escuro amornando a sala. Esticou o pé para cima e reparou nas meias felpudas, quase vivas. Em movimentos aleatórios tapava com o pé esquerdo a lâmpada amarela e depois destapava, iluminando e assombrando o pequeno rosto.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Uma metamorfose ambulante


Capa do Disco London Calling do The Clash

“É apenas rock’n’roll, mas eu gosto” é o que diz a letra da música It’s only rock’n’roll but I like It, famoso hino do rock escrito em 1974 pelos Rolling Stones, banda liderada por Mick Jagger. Assim como todo gênero que se presta, o rock aprendeu a falar sobre si mesmo com muita qualidade desde que surgiu, lá no final da década de 1940. Foi a canção Rock around the clock, de Bill Haley em 1955 que se tornou a primeira desse novo estilo a chegar ao topo de parada de vendas e execuções da revista Billboard nos Estados Unidos, abrindo caminho mundialmente para uma nova onda da cultura popular.

Bill Halley era o terror dos pais de uma geração que aprendeu a dançar com a música do artista: “Ponha seus trapos alegres e aproveite comigo/Nós vamos dançar rock, nós vamos dançar rock até o final da noite”. Mas tudo bem, esses mesmos pais acabariam se rendendo mais tarde, ao notarem que não adiantaria lutar contra o novo estilo de música, ou até de vida. Quatro meninos vindos de Liverpool, uma cidade portuária e cinzenta na Inglaterra, confirmariam essa tese em 1964. Quando I wanna hold your hand do conjunto britânico começou a tocar nas rádios americanas, a transgressão de “querer segurar na mão, e de sentir aquela coisa especial” como diz a letra, já estava praticamente consolidada.

E como toda boa transgressão, o rock está sempre se modificando, afinal ele precisa ser “aquela metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, como explica um dos ícones brasileiros do gênero, Raul Seixas. No final dos anos 1960, devido à guerra do Vietnã e a um conservadorismo ainda em voga, o rock se torna a válvula de escape dos jovens que encontram no gênero uma forma de contestação. Novos subgêneros surgiriam introduzindo mais originalidade em suas composições além de conceitos musicais cada vez mais complexos. Bob Dylan é um dos artistas mais expressivos e influentes do período, antes de tudo um contestador, como fica claro na sua canção Like a rolling stone: “Como se sente?/ Por estar por sua conta?/ Sem direção alguma para casa?/ Como uma completa estranha?/Como uma pedra a rolar?”. Uma década tão celebrada só poderia acabar em um festival de proporções até então nunca vistas, onde a era hippie e a contracultura tiveram seu ápice: Woodstock com shows históricos em 1969.

Depois do caos sessentista, lá estava novamente o tal do rock se reinventando, agora o que começava a surgir eram o hard rock e o punk. As bandas se tornavam cada vez mais antagônicas, o que pode ser percebido na diferença entre Queen e Sex Pistols, ambas inglesas, mas de estilos totalmente distintos. Enquanto os Pistols trucidavam problemas sociais em suas letras e em seus poucos acordes de guitarra, o Queen em suas composições e arranjos bem trabalhados preferia cantar sobre temas normais como o amor e a própria música. Nessa época surgiu também o famoso show Live Aid, mais precisamente no dia 13 de julho de 1985, que reuniu grandes artistas a fim de angariar fundos para os famintos da Etiópia. Desde então, 13 de julho é também conhecido como o Dia Internacional do Rock.

Justamente por ser um gênero que se transforma, capaz de se adaptar ao comportamento de uma época, o rock é tão celebrado e tão cultivado até os dias de hoje. Onde o mundo da música se vê contaminado com o fenômeno da internet, e a facilidade que é se tornar conhecido. É o começo do rock cada vez mais independente e o fim das grandes gravadoras. Não há mais ídolos na música, e talvez o último gênio do rock tenha sido Kurt Cobain, que representou o grunge da década de 1990 em contraponto ao glitter das bandas de hard rock dos anos 1980, como o Bon Jovi. Assim como a vida, o rock nasceu para ser aquela metamorfose, sempre modificando padrões, associando comportamentos, nunca fugindo da sua natureza completamente transgressora. O bom rock vive e deve ser celebrado não apenas em uma data comemorativa como a de hoje, mas todo dia. Afinal, é preciso sempre lembrar das sábias palavras dos pintados do Kiss: “Eu quero rock and roll a noite toda e festa todos os dias!”

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Texto publicado originalmente hoje na capa do Panorama, caderno de cultura do Jornal do Comercio, em homenagem ao dia do rock - que, na verdade, deve ser celebrado todos os dias, não?


domingo, 11 de julho de 2010

Songs Of Joy Instead Of Burn, Baby, Burn

Um clipe ótimo do Wings, antiga banda do Paul McCartney. Procurem, o conjunto têm várias músicas excelentes.


Pipe of peace

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pouco a pouco

Pegou na sua mão lá pelas 23 horas, as lojas de roupa já estavam fechadas e os dois passeavam quase que completamente sozinhos, esquecidos por entre livrarias trancadas e vitrines escuras cheias de manequins . Ela deixou os dedos de Márcio deslizarem suavemente pelos seus até os segurar, os prendendo. Era tarde da noite para um shopping e os funcionários da limpeza já chegavam, vestindo a camiseta azul clara padrão, e trajando a calça preta, eles varriam o chão com toda a calma do mundo para depois atravessarem um pano molhado com algum desinfetante. Helena e Márcio andavam a sós pelo segundo piso, enquanto as luzes do centro comercial, também calmamente iam se apagando. Agora que finalmente eles haviam dado as mãos, uma voz no alto falante começou a aparecer. “O Shopping está fechando dentro de quinze minutos, por favor pedimos para que os clientes se dirijam as portas de saída”. Márcio olhou para o alto falante como quem amaldiçoasse a sorte e virou para Helena, “acho que teremos que ir embora”, disse. Ela sorriu e virou o seu corpo ao encontro do dele. “Você me leva embora daqui?”, com a voz manhosa, quase triste, mas quase feliz. A blusa branca, a calça jeans justa e os olhos morenos. “Claro, Helena, claro que eu te levo daqui”, respondeu apertando a mão da moça enquanto os funcionários continuavam a lavar os pisos e as luzes dos andares se apagavam pouco a pouco.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Carta 06

Demorei um tempo, eu confesso, para esquecer aquele amor. Nem sei se é o termo correto esquecer, acredito que está mais para algo como abandonar. Você sabe, uma hora é preciso abandonar.


E, em uma relação, há sempre o que abandona por último, que afunda com o barco. Há verdade na frase linda do Caio Fernanda Abreu, quando ele fala sobre remar, “Não para de remar não, porque te ver remando, me dá vontade de não querer parar de remar também...”. Embora você tenha parado de remar há muito tempo, eu não percebi. Talvez eu não olhasse para o lado o suficiente.


Agora, eu sei.


Agora a gente sabe o quão necessário é olhar para o outro lado. E embora eu tenha sim abandonado esse amor, eu não naufraguei, eu pulei daquele barco, daquele jeito. Era a melhor opção no momento e, analisando agora, continua sendo.


Amor sem divisão é castigo. Amar sozinho é invenção.


Ao pular do barco a gente percebe o quão rasa a água é, diferentemente do que pensamos enquanto estamos lá em cima. Eu pulei e não me molhei nada, eu pulei e só os meus pés ficaram ensopados.


E, assim, a gente sempre está pronto para caminhar novamente.